terça-feira, 7 de abril de 2015

Um breve comparativo entre Alonso e Barrichello



Por William Rauber


Olá, caro leitor.

Sim, você leu corretamente. Este é um breve comparativo entre os pilotos Fernando Alonso, bicampeão mundial, e Rubens Barrichello, o piloto com maior número de grandes prêmios disputados.

Recentemente, Lívio Oríchio escreveu uma interessante coluna sobre os acertos de Alonso e os erros de Vettel. Melhor dizendo, os erros cometidos em sua carreira, por parte de Fernando, e os acertos em cheio, por parte de Sebastian. Não tratarei de Vettel neste texto, contudo, para melhor compreensão, faz-se necessária a leitura da coluna, neste link:


Em síntese, a coluna aponta alguns erros da administração da carreira de Fernando Alonso, e é justamente isso que será comparado com Rubens Barrichello.

Sobre Barrichello: todos que acompanham a Fórmula 1 há algum tempo sabem das polêmicas que envolvem o Rubens. Uns são fanáticos pelo ex-piloto de F1 e outros o ojerizam. Eu já fiz parte da segunda turma. Hoje (na verdade, há alguns anos) estou mais velho, mais centrado, com um pouco mais de leituras (e muitos vídeos do Youtube), e avalio o Rubens de uma forma diferente.

Lembrando que argumentos do tipo “ele tem uma família maravilhosa” ou “isso é inveja da fortuna dele” ou ainda “por que você não faz melhor?” serão sumariamente descartados, pois eu não falarei nem do Rubens pessoa, nem do Rubens pai, tampouco do Barrichello empresário, mas apenas do Barrichello enquanto piloto de Fórmula 1. E, logicamente, eu não faço melhor pela simples razão de impossibilidade financeira pois, se fosse possível eu fazer melhor, teria tocado rodas com o Barrichello. Feito esse esclarecimento, vamos ao comparativo.

Há algum tempo, assisti a um programa que passava no (finado) canal Speed chamado GP Story. E em uma das vezes foi feito um “Especial” sobre o Rubens Barrichello e sua carreira. Inclusive, se alguém souber onde assistir a esse especial, por favor, nos comunique, suba no Youtube, mande link, algo nesse sentido, inclusive, para enriquecer este texto.

Esse referido programa começa demonstrando a meteórica carreira nas categorias inferiores de Rubens e os seus títulos na categoria de base. O mundo da F1 o aguardava ansioso, pois era tratado como um novo futuro gênio (ainda mais tendo como padrinho – então, frise-se – nada mais, nada menos, que a lenda-viva Ayrton Senna) e eis que em 1993, o jovem piloto estreou pela Jordan. Rubens, portanto, fez uma grande primeira temporada, marcando pontos (lembrando que nessa época apenas os 6 primeiros pontuavam, diferente de hoje em dia) e com perfórmances de animarem os mais céticos (Donnington é um grande exemplo).

Um piloto jovem, fazendo uma grande primeira temporada em um carro anos-luz distante de brigar por qualquer coisa mais que pontos, todos imaginavam tudo aquilo que o futuro o reservava. Ao final da fatídica temporada de 1994, como dito no GP Story, enquanto seu companheiro de equipe Eddie Irvine foi contratado pela Ferrari para correr 1995, um desorientado, porém fiel Rubens Barrichello manteve-se na Jordan.

O programa informa que a McLaren tentou contratá-lo ao final de 94. O primeiro erro cometido por Rubens. E, para referendar a tese e dar veracidade a ela, a McLaren contratou outro jovem, aquele que fora o derrotado por Barrica durante toda a categoria de base: David Coultard. Portanto, grave erro perpetrado por Rubinho.

Reza uma lenda que, ao final de 1995, a McLaren fez uma nova investida em Rubinho... mas manteve-se na Jordan até o final de 96. Aí você pensa: “um jovem, promissor, fazendo grandes temporadas, foi para uma equipe com mais estrutura?”. Bom, deveria ter ido... ou foi, se assim você chamar a Stewart.

Com todo o respeito a Jackie e toda sua história, mas gostaria de saber como Rubens Barrichello foi convencido a ir para uma equipe recém fundada. Lembrando que o brasileiro havia encerrado uma extensa negociação com a Benneton. Permitam-me um pequeno momento de cornetagem: o que se passou na cabeça dele? Será que ele achou que a Benneton tinha uma estrutura inferior a (em letras garrafais) recém fundada Stewart? Ou foi uma jogada meramente financeira? Ou pior: será que ele achou que uma equipe novata descobriria um grande segredo mecânico que lhe daria a oportunidade de ser campeão? Correto que a Benneton não vivia mais uma grande fase, mas hoje em dia, quais são as equipes que podem fazer um carro competitivo: McLaren, Ferrari, Red Bull, Mercedes e Williams (muito mais pela tradição e pela estrutura, apesar da última década difícil). É como hoje ir pilotar pela Marussia (ou Manor...) ou pela Force Índia almejando ser campeão.

Algum de vocês rebateria “mas e se ele não almejava ser campeão?” eu replico dizendo: você entra em algum negócio para não ser o melhor, para não ser o vencedor? Você entra em uma competição apenas para competir? Competir e perder, aceitar a derrota, lutar, melhorar e, talvez, com esforço, vencer, é uma situação. Entrar para ser derrotado, me desculpe se você assim procede, é algo que não consta no meu vocabulário. Posso não ser o melhor no que faço, mas garanto que dou meu melhor.

Prosseguindo: de 1997 até 1999, Rubens pilotou pela Stewart, fazendo grandes corridas e boas temporadas (levando-se em conta o carro que tinha). Outra lenda diz que a McLaren tentou contratar Rubens ao final de 1998 e, sabe-se lá Deus o porquê, Rubinho manteve-se fiel...

Até que chegamos ao final de 1999. Novamente, a McLaren tenta contratar Rubens Barrichello. (momento mini corneta: Ron Dennis deve ter tido muito pesadelo com o Barrica...) E, por uma razão estritamente financeira, um contrato foi assinado com a Ferrari. E lá estava nada mais, nada menos, que o Bicampeão do mundo Michael Schumacher. Questiono-me por qual motivo Rubinho não chamou seu ex-companheiro de equipe Eddie Irvine para tomar um chimarrão, uma limonada, uma cerveja, ou ainda arranjasse uma razão qualquer para perguntar como que o Schumi era com a equipe, como que a banda tocava em Maranello... afinal de contas, o piloto brasileiro conhecia o mundo nefasto do “circo da Fórmula 1” desde 1993 e já sabia muito bem que flores não crescem e sequer brotam em solo infértil. Pois a F1, como qualquer local de trabalho, é um lugar amargo e lotado de concorrência (muitas vezes desleal). Ou era de se esperar que soubesse disso, afinal, em 2000, Rubens já estava no alto de seus 28 anos.

Idade qual, coincidentemente, é a mesma que tenho enquanto redijo este texto* e eu, que nunca vivi um ambiente como o da F1 já sei de fatos assim, deduzo que Rubens Barrichello já sabia de fatores como o que apontei.

Outra lenda existente dentro da F1 trata da relação entre Nelson Piquet Souto Maior e Rubinho. Diz Nelson que foi procurado por Rubens para saber a opinião do tricampeão do que ele achava de como seria Barrica enquanto companheiro de equipe de Schumacher. Então, Piquet disse (daquele jeitinho especial dele...) que Barrichello seria completamente dominado por Schumacher. E o ex-piloto falou com um grande conhecimento de causa, afinal, dividiu a equipe com o jovem e talentoso Michael. Barrichello não o ouviu, embrabeceu com Nelson e assinou com a Ferrari.

Ao final de 2002, em meio a muitas polêmicas, por mais um turno, a McLaren tentou contratar Rubens. E ao final de 2004, novamente. Em 2006, Rubens foi para a Honda, e a partir de 2007, penando com carros terríveis. Ao final de 2008, falem o que quiserem, no entanto, para mim, Barrichello foi injustamente aposentado de modo compulsório. E aos “49 minutos do segundo tempo”, a Brawn o contrata.

Então, a sorte grande: Barrichello pilotando o carro de meio bilhão de euros, um carro poderoso, motor forte, um tanque. Carro onde Jenson Button fora campeão do mundo. E, no meio de 2009, dessa vez admitido publicamente pelo Barrica, a McLaren fez a sua última investida. E obteve conjuntamente a última negativa, pois o brasileiro já havia assinado pela Williams e, perto dos 40 anos, estava por se aposentar.

Vocês que leram até aqui e leram a análise do Lívio sobre a carreira de Alonso e seus erros, conseguem notar as semelhanças com Barrichello? Enquanto Barrichello manteve-se na Jordan, Alonso encerrou com a McLaren. Enquanto Rubens preteriu a McLaren em favor da Stewart, Fernando não acreditou na proposta de Newey para ir até a Red Bull ao final de 2007. Enquanto o brasileiro assinou apressadamente com a Williams no meio de 2009, o espanhol saiu da Ferrari no meio de 2014 acreditando que seu nome lhe abriria uma vaga em qualquer time.

As carreiras de Alonso e Barrichello, no que tange as suas escolhas, dão a impressão de que ambos foram aconselhados por alguém absolutamente inexperiente. Não é razoável admitir-se os erros cometidos. Sobre Barrichello: Preterir a McLaren em favor da Ferrari, ok, aceita-se, mas em favor da Stewart? Sobre Alonso: E se manter na Renault (com aquela aerodinâmica de tijolo) ao invés da aposta da Red Bull, toda estrutura e a palavra de Adrian Newey?

Barrichello e Alonso cometeram erros crassos, erros terríveis e nefastos de avaliação. Pilotos muito talentosos (principalmente no que se refere a Fernando), que foram vítimas de suas incapacidades, de seus erros.

Não gosto de adentrar nesta seara, mas e se Rubens tivesse ido para a McLaren em 2000? Talvez não tivesse sido campeão, como não foi na Ferrari, mas com toda a certeza não teria passado metade do que passou com Schumi. Se Alonso tivesse ficado quietinho e aceitado o título de Hamilton em 2007, teria sido tricampeão em 2008, tetra em 2010 e penta em 2012. Todos os 3 títulos pela McLaren. Lewis venceu 2008, disputou 2010 (e perdeu sozinho as chances) e chegou com grandes chances em 2012. Alonso, pela sua técnica, perícia e qualidade, não teria cometido os mesmos erros bobos do britânico e seria absolutamente cerebral como sempre foi, e teria sido ele o campeão.

Não consigo imaginar como Rubens deve deitar a cabeça no travesseiro, deve dormir bem, com seus milhões de dólares na conta bancária e seu grandioso patrimônio. Em breve seus filhos começarão a correr, etc. Mas a pergunta é: o dinheiro resolve tudo? A consciência e o sonho não realizado podem ser comprados pelo dinheiro? É de se pensar.

E Alonso? Será que ele teve que engolir seu orgulho (pois muitas vezes disse que jamais voltaria para a McLaren, principalmente após jurar amor eterno para a Ferrari) pois acreditou que a Honda retornando faria um incrível e potente motor e já poderia voltar a vencer na primeira temporada? A aposentadoria está avizinhando Alonso e ele não tem muito mais tempo. Fernando errou muito. E errou novamente. E, com toda a certeza, cometeu seu último erro. E pergunto: será que ele não pensa que se tivesse feito como Prost em 1988, poderia hoje ser Penta Campeão do mundo? Ou Tetra? Ou, no mínimo, igualado seu Ídolo Senna, e ser Tri? Tenho certeza que Fernando Alonso lamenta e muito as decisões equivocadas de 2007, onde tinha apenas 26 anos. Um jovem, claro, mas muitas pessoas do mundo são chefes de famílias com essa idade e não podem errar. O espanhol errou e está pagando caro. E, por falar em pagar, repete-se: será que os milhões de euros em sua conta (na Suiça?) cobrem a dor de sua consciência? O dinheiro compra as frustrações? Eu tenho certeza que não. O sentimento de frustração da perda de uma oportunidade é um dos mais nefastos e acaba com o ser humano.

Agora, num momento de conselheiro, você, leitor, sempre avalie muito bem cada escolha a ser tomada. A vida é um caminho simples de mão única, apenas de ida. Não se pode retroagir ou recarregar (o famoso “loading”) um evento. E quando se quer recomeçar, é algo extremamente difícil, ameaçador e, principalmente, oneroso. Sempre pense muito bem, estude, reflita.

Fernando e Rubens são dois exemplos de como não se fazer algumas coisas, de como não tomar decisões, e isso na mesma forma e proporção que são dois grandes vencedores. Os poderosos, os vencedores e aqueles que estão bem assessorados também erram. Também são humanos. Resta aprender com os erros dos outros, dói menos e sai (bem) mais barato.

Espero que tenham gostado do comparativo entre Fernando Alonso e Rubens Barrichello. Quem nunca imaginou, agora pode ver com os próprios olhos. Até a próxima.


*William Rauber completou 29 anos há poucos dias


 

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