Por
William Rauber
Olá,
caro leitor.
Sim,
você leu corretamente. Este é um breve comparativo entre os pilotos Fernando
Alonso, bicampeão mundial, e Rubens Barrichello, o piloto com maior número de
grandes prêmios disputados.
Recentemente,
Lívio Oríchio escreveu uma interessante coluna sobre os acertos de Alonso e os
erros de Vettel. Melhor dizendo, os erros cometidos em sua carreira, por parte
de Fernando, e os acertos em cheio, por parte de Sebastian. Não tratarei de
Vettel neste texto, contudo, para melhor compreensão, faz-se necessária a
leitura da coluna, neste link:
Em
síntese, a coluna aponta alguns erros da administração da carreira de Fernando
Alonso, e é justamente isso que será comparado com Rubens Barrichello.
Sobre
Barrichello: todos que acompanham a Fórmula 1 há algum tempo sabem das
polêmicas que envolvem o Rubens. Uns são fanáticos pelo ex-piloto de F1 e
outros o ojerizam. Eu já fiz parte da segunda turma. Hoje (na verdade, há
alguns anos) estou mais velho, mais centrado, com um pouco mais de leituras (e
muitos vídeos do Youtube), e avalio o Rubens de uma forma diferente.
Lembrando
que argumentos do tipo “ele tem uma família maravilhosa” ou “isso é inveja da
fortuna dele” ou ainda “por que você não faz melhor?” serão sumariamente
descartados, pois eu não falarei nem do Rubens pessoa, nem do Rubens pai,
tampouco do Barrichello empresário, mas apenas do Barrichello enquanto piloto
de Fórmula 1. E, logicamente, eu não faço melhor pela simples razão de
impossibilidade financeira pois, se fosse possível eu fazer melhor, teria
tocado rodas com o Barrichello. Feito esse esclarecimento, vamos ao
comparativo.
Há
algum tempo, assisti a um programa que passava no (finado) canal Speed chamado
GP Story. E em uma das vezes foi feito um “Especial” sobre o Rubens Barrichello
e sua carreira. Inclusive, se alguém souber onde assistir a esse especial, por
favor, nos comunique, suba no Youtube, mande link, algo nesse sentido,
inclusive, para enriquecer este texto.
Esse
referido programa começa demonstrando a meteórica carreira nas categorias
inferiores de Rubens e os seus títulos na categoria de base. O mundo da F1 o
aguardava ansioso, pois era tratado como um novo futuro gênio (ainda mais tendo
como padrinho – então, frise-se – nada mais, nada menos, que a lenda-viva
Ayrton Senna) e eis que em 1993, o jovem piloto estreou pela Jordan. Rubens,
portanto, fez uma grande primeira temporada, marcando pontos (lembrando que
nessa época apenas os 6 primeiros pontuavam, diferente de hoje em dia) e com
perfórmances de animarem os mais céticos (Donnington é um grande exemplo).
Um
piloto jovem, fazendo uma grande primeira temporada em um carro anos-luz
distante de brigar por qualquer coisa mais que pontos, todos imaginavam tudo
aquilo que o futuro o reservava. Ao final da fatídica temporada de 1994, como
dito no GP Story, enquanto seu companheiro de equipe Eddie Irvine foi
contratado pela Ferrari para correr 1995, um desorientado, porém fiel Rubens
Barrichello manteve-se na Jordan.
O
programa informa que a McLaren tentou contratá-lo ao final de 94. O primeiro
erro cometido por Rubens. E, para referendar a tese e dar veracidade a ela, a
McLaren contratou outro jovem, aquele que fora o derrotado por Barrica durante
toda a categoria de base: David Coultard. Portanto, grave erro perpetrado por
Rubinho.
Reza
uma lenda que, ao final de 1995, a McLaren fez uma nova investida em Rubinho...
mas manteve-se na Jordan até o final de 96. Aí você pensa: “um jovem,
promissor, fazendo grandes temporadas, foi para uma equipe com mais
estrutura?”. Bom, deveria ter ido... ou foi, se assim você chamar a Stewart.
Com
todo o respeito a Jackie e toda sua história, mas gostaria de saber como Rubens
Barrichello foi convencido a ir para uma equipe recém fundada. Lembrando que o
brasileiro havia encerrado uma extensa negociação com a Benneton. Permitam-me
um pequeno momento de cornetagem: o que se passou na cabeça dele? Será que ele
achou que a Benneton tinha uma estrutura inferior a (em letras garrafais) recém
fundada Stewart? Ou foi uma jogada meramente financeira? Ou pior: será que ele
achou que uma equipe novata descobriria um grande segredo mecânico que lhe
daria a oportunidade de ser campeão? Correto que a Benneton não vivia mais uma
grande fase, mas hoje em dia, quais são as equipes que podem fazer um carro
competitivo: McLaren, Ferrari, Red Bull, Mercedes e Williams (muito mais pela
tradição e pela estrutura, apesar da última década difícil). É como hoje ir
pilotar pela Marussia (ou Manor...) ou pela Force Índia almejando ser campeão.
Algum
de vocês rebateria “mas e se ele não almejava ser campeão?” eu replico dizendo:
você entra em algum negócio para não ser o melhor, para não ser o vencedor?
Você entra em uma competição apenas para competir? Competir e perder, aceitar a
derrota, lutar, melhorar e, talvez, com esforço, vencer, é uma situação. Entrar
para ser derrotado, me desculpe se você assim procede, é algo que não consta no
meu vocabulário. Posso não ser o melhor no que faço, mas garanto que dou meu melhor.
Prosseguindo:
de 1997 até 1999, Rubens pilotou pela Stewart, fazendo grandes corridas e boas
temporadas (levando-se em conta o carro que tinha). Outra lenda diz que a
McLaren tentou contratar Rubens ao final de 1998 e, sabe-se lá Deus o porquê,
Rubinho manteve-se fiel...
Até
que chegamos ao final de 1999. Novamente, a McLaren tenta contratar Rubens
Barrichello. (momento mini corneta: Ron Dennis deve ter tido muito pesadelo com
o Barrica...) E, por uma razão estritamente financeira, um contrato foi
assinado com a Ferrari. E lá estava nada mais, nada menos, que o Bicampeão do mundo
Michael Schumacher. Questiono-me por qual motivo Rubinho não chamou seu
ex-companheiro de equipe Eddie Irvine para tomar um chimarrão, uma limonada,
uma cerveja, ou ainda arranjasse uma razão qualquer para perguntar como que o
Schumi era com a equipe, como que a banda tocava em Maranello... afinal de
contas, o piloto brasileiro conhecia o mundo nefasto do “circo da Fórmula 1”
desde 1993 e já sabia muito bem que flores não crescem e sequer brotam em solo
infértil. Pois a F1, como qualquer local de trabalho, é um lugar amargo e
lotado de concorrência (muitas vezes desleal). Ou era de se esperar que
soubesse disso, afinal, em 2000, Rubens já estava no alto de seus 28 anos.
Idade
qual, coincidentemente, é a mesma que tenho enquanto redijo este texto* e eu,
que nunca vivi um ambiente como o da F1 já sei de fatos assim, deduzo que
Rubens Barrichello já sabia de fatores como o que apontei.
Outra
lenda existente dentro da F1 trata da relação entre Nelson Piquet Souto Maior e
Rubinho. Diz Nelson que foi procurado por Rubens para saber a opinião do tricampeão
do que ele achava de como seria Barrica enquanto companheiro de equipe de
Schumacher. Então, Piquet disse (daquele jeitinho especial dele...) que
Barrichello seria completamente dominado por Schumacher. E o ex-piloto falou
com um grande conhecimento de causa, afinal, dividiu a equipe com o jovem e
talentoso Michael. Barrichello não o ouviu, embrabeceu com Nelson e assinou com
a Ferrari.
Ao
final de 2002, em meio a muitas polêmicas, por mais um turno, a McLaren tentou
contratar Rubens. E ao final de 2004, novamente. Em 2006, Rubens foi para a
Honda, e a partir de 2007, penando com carros terríveis. Ao final de 2008,
falem o que quiserem, no entanto, para mim, Barrichello foi injustamente
aposentado de modo compulsório. E aos “49 minutos do segundo tempo”, a Brawn o
contrata.
Então,
a sorte grande: Barrichello pilotando o carro de meio bilhão de euros, um carro
poderoso, motor forte, um tanque. Carro onde Jenson Button fora campeão do
mundo. E, no meio de 2009, dessa vez admitido publicamente pelo Barrica, a
McLaren fez a sua última investida. E obteve conjuntamente a última negativa,
pois o brasileiro já havia assinado pela Williams e, perto dos 40 anos, estava
por se aposentar.
Vocês
que leram até aqui e leram a análise do Lívio sobre a carreira de Alonso e seus
erros, conseguem notar as semelhanças com Barrichello? Enquanto Barrichello
manteve-se na Jordan, Alonso encerrou com a McLaren. Enquanto Rubens preteriu a
McLaren em favor da Stewart, Fernando não acreditou na proposta de Newey para
ir até a Red Bull ao final de 2007. Enquanto o brasileiro assinou
apressadamente com a Williams no meio de 2009, o espanhol saiu da Ferrari no
meio de 2014 acreditando que seu nome lhe abriria uma vaga em qualquer time.
As
carreiras de Alonso e Barrichello, no que tange as suas escolhas, dão a
impressão de que ambos foram aconselhados por alguém absolutamente
inexperiente. Não é razoável admitir-se os erros cometidos. Sobre Barrichello:
Preterir a McLaren em favor da Ferrari, ok, aceita-se, mas em favor da Stewart?
Sobre Alonso: E se manter na Renault (com aquela aerodinâmica de tijolo) ao
invés da aposta da Red Bull, toda estrutura e a palavra de Adrian Newey?
Barrichello
e Alonso cometeram erros crassos, erros terríveis e nefastos de avaliação.
Pilotos muito talentosos (principalmente no que se refere a Fernando), que
foram vítimas de suas incapacidades, de seus erros.
Não
gosto de adentrar nesta seara, mas e se Rubens tivesse ido para a McLaren em
2000? Talvez não tivesse sido campeão, como não foi na Ferrari, mas com toda a
certeza não teria passado metade do que passou com Schumi. Se Alonso tivesse
ficado quietinho e aceitado o título de Hamilton em 2007, teria sido tricampeão
em 2008, tetra em 2010 e penta em 2012. Todos os 3 títulos pela McLaren. Lewis
venceu 2008, disputou 2010 (e perdeu sozinho as chances) e chegou com grandes
chances em 2012. Alonso, pela sua técnica, perícia e qualidade, não teria
cometido os mesmos erros bobos do britânico e seria absolutamente cerebral como
sempre foi, e teria sido ele o campeão.
Não
consigo imaginar como Rubens deve deitar a cabeça no travesseiro, deve dormir bem,
com seus milhões de dólares na conta bancária e seu grandioso patrimônio. Em
breve seus filhos começarão a correr, etc. Mas a pergunta é: o dinheiro resolve
tudo? A consciência e o sonho não realizado podem ser comprados pelo dinheiro?
É de se pensar.
E
Alonso? Será que ele teve que engolir seu orgulho (pois muitas vezes disse que
jamais voltaria para a McLaren, principalmente após jurar amor eterno para a
Ferrari) pois acreditou que a Honda retornando faria um incrível e potente
motor e já poderia voltar a vencer na primeira temporada? A aposentadoria está
avizinhando Alonso e ele não tem muito mais tempo. Fernando errou muito. E
errou novamente. E, com toda a certeza, cometeu seu último erro. E pergunto:
será que ele não pensa que se tivesse feito como Prost em 1988, poderia hoje
ser Penta Campeão do mundo? Ou Tetra? Ou, no mínimo, igualado seu Ídolo Senna,
e ser Tri? Tenho certeza que Fernando Alonso lamenta e muito as decisões
equivocadas de 2007, onde tinha apenas 26 anos. Um jovem, claro, mas muitas
pessoas do mundo são chefes de famílias com essa idade e não podem errar. O
espanhol errou e está pagando caro. E, por falar em pagar, repete-se: será que
os milhões de euros em sua conta (na Suiça?) cobrem a dor de sua consciência? O
dinheiro compra as frustrações? Eu tenho certeza que não. O sentimento de
frustração da perda de uma oportunidade é um dos mais nefastos e acaba com o
ser humano.
Agora,
num momento de conselheiro, você, leitor, sempre avalie muito bem cada escolha
a ser tomada. A vida é um caminho simples de mão única, apenas de ida. Não se
pode retroagir ou recarregar (o famoso “loading”) um evento. E quando se quer
recomeçar, é algo extremamente difícil, ameaçador e, principalmente, oneroso.
Sempre pense muito bem, estude, reflita.
Fernando
e Rubens são dois exemplos de como não se fazer algumas coisas, de como não
tomar decisões, e isso na mesma forma e proporção que são dois grandes
vencedores. Os poderosos, os vencedores e aqueles que estão bem assessorados
também erram. Também são humanos. Resta aprender com os erros dos outros, dói
menos e sai (bem) mais barato.
Espero
que tenham gostado do comparativo entre Fernando Alonso e Rubens Barrichello.
Quem nunca imaginou, agora pode ver com os próprios olhos. Até a próxima.
*William
Rauber completou 29 anos há poucos dias
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