terça-feira, 30 de junho de 2015

Uma ordem, um muro e sete anos.



Por: Will Rauber


Olá pessoal, sou Will e volto para comentar um assunto que tem gerado alguma polêmica. Por alguma razão desconhecida (ou conhecida), tem gerado os mais diversificados sentimentos. Ódio, amor, indiferença... cada um tem o seu sentimento. No entanto, vamos proceder com uma análise diferenciada (ou tentar se diferenciar) das várias espalhadas por aí. Umas carregadas de sentimentos (nefastos, como o ódio, por exemplo), pregando discurso de paz. Enfim, vamos para a análise.

No último fim de semana de junho de 2015, Nelson Angelo Piquet, venceu a Formula E, categoria regida pela FIA. A disputa inteira do campeonato se deu entre dois brasileiros: o campeão Piquet e Lucas di Grassi. Eu, particularmente, não tinha um preferido entre eles. Sendo honesto, meu único desejo para os esportistas brasileiros é que sempre vençam, seja nas lutas, nas pistas, não importa o esporte, o que importa é que um BR vença. Quer me xingar? Fique à vontade, pois isso não atrapalha minha análise sobre fatos e desempenho. Eu torci para Fabrício Werdum contra o Cain Velasquez, mesmo achando que ele fosse perder (e, felizmente, o gaúcho venceu). Enfim, exemplo dado, prosseguimos.

Nelson Angelo Piquet, nascido na Alemanha, filho do Tricampeão Mundial cujo nome ele carrega, cometeu um erro em 2008. Por ordem do (insira a ofensa), seu antigo chefe, Flávio Briatore, Nelsinho não ponderou muito bem (ou ponderou) e cometeu um erro que quase acabou com a sua carreira. Como bem disse meu amigo Álvaro em tópico da comunidade: “Tempo para colocar uma carreira promissora em risco: três segundos. Tempo para juntar os cacos e continuar em frente com o que sobrou: sete anos. Pois é exatamente disso que tratarei.

O Piquetzinho podia não ter batido em Cingapura. Podia. Seria mandado embora e, ao contar o motivo da despedida (não colidir por ordem forçada), seria tachado de mentiroso. Logicamente, desempenho não foi a razão. Ele costumava andar 3 décimos distante do bicampeão Fernando Alonso (e, digam o que quiserem, para mim, só andava atrás pela razão óbvia de privilégios que o espanhol exigia, ainda mais com seu comparsa Flávio...), logo, não é vergonhoso um estreante andar atrás de um campeão (inclusive, pelo motivo de que não é todo dia que nasce um Lewis Hamilton).

Erro cometido, carreira abalada. Nelsinho, portanto, recomeça sua vida longe da F1. Vai pilotar em outras categorias mostrando sempre o mesmo: que é um grande piloto. No entanto, amiguinhos, lembrem-se do seguinte: leva-se muitos anos para se fazer uma fama, um nome. E apenas alguns segundos para atirar tudo isso fora. O companheiro de Alonso não apenas sujou seu nome, mas sujou o nome de seu pai, o Mestre. Agora, um momento “Will Paizão”: gente, vocês precisam entender que quando se nasce filho de algumas pessoas, não podemos envergonhar nossos pais. Inclusive, (para aqueles que são ou se dizem Cristãos) tem ensinamento bíblico: “Honrar pai e mãe”. Independente disso ser bíblico ou não, se você é Cristão ou ateu ou seja lá qual for sua filosofia religiosa, pergunto: você honra seus pais? Ou você é motivo de vergonha para seu pai e sua mãe? Quero lembrar-lhes que quando o mundo virar as costas para você (amigos, namorada(o), parceiros comerciais, etc), os únicos que lhe apoiarão, certos ou errados, serão seus pais. Deste modo, valorize-os, ame-os, cuide-os, pois eles são únicos e seus verdadeiros amigos. Por isso, honre-os.

Dito o acima, repito: quando se nasce filho de determinadas pessoas, não se pode simplesmente jogar o nome de seu pai na lama. Exemplifico: se seu pai é Tricampeão Mundial de F1, você NÃO pode macular o nome dele. MUITO da categoria foi INVENTADO por Nelson Piquet Souto Maior. Trocas de pneu, reabastecimento, cobertor térmico, etc, logo, você não é filho de mais um, de qualquer um. E, mesmo que fosse, deve honrar seu pai e sua mãe. Mas dou outros exemplos: seu pai é pedreiro. Não é o maior pedreiro do mundo, mas um homem honesto, íntegro que tem o respeito de todos, por ser um bom pai, um homem batalhador. É justo com ele que você, independente da profissão (médico, advogado, piloto, etc) seja um corrupto ou faça algo que o envergonhe? Sua mãe é uma grande médica e você um bandido estuprador. É justo com ela? Sua mãe e seu pai não tem estudo, mas batalharam a vida inteira para lhe criar e você é um vagabundo, usuário de drogas, e transforma a joia deles (você mesmo) em um demônio. Repito a pergunta: é justo com seus pais?

Dados os exemplos, seguimos. Pelas razões acima expostas é que o erro de Nelsinho não pode simplesmente ser “ignorado”. E não foi. Felizmente, o nome de seu pai, o Piquetzão, se manteve íntegro e quem teve que trabalhar ainda mais duro foi Piquet Jr., que juntou os cacos e recomeçou. O grande prejudicado naquele dia foi tão somente Nelson Angelo Piquet, pois ele foi julgado, condenado e “banido” da F1. (obs.: a palavra banido está entre aspas pela razão dele não ter sido definitivamente banido, mas um banimento tácito).

Não sejamos hipócritas: NÓS analisamos, ponderamos e julgamos. Isso é inerente as atitudes humanas e todos passamos pelo crivo e julgo do público, o tempo todo, todo dia. Certo ou errado, passamos por isso diariamente. Não adianta de nada sermos românticos e dizer “quem nunca errou”, inclusive, porque abordarei esse tópico especial em breve. Eu julguei e condenei o brasileiro. Todos nós agiríamos diferente. Ou não, pois somos humanos passiveis de erros e acertos. Nem sempre quem julga uma atitude tem propriedade para julgar, do mesmo que nem sempre quem não julga deve manter-se inerte. Avaliar e julgar o certo e o errado faz parte de nossa humanidade. Da mesma forma que os erros também o fazem. Principalmente pelo seguinte: Nelson errou e foi o ÚNICO prejudicado. Eu, tu, nós e os demais pronomes pessoais não foram prejudicados, pois nossa vida seguiu exatamente como estava seguindo. Principalmente por se tratar de um caso grave, onde um piloto bate para beneficiar o companheiro de equipe.

Contudo, não podemos ser ingênuos e usar alguns argumentos excludentes que alguns membros da comunidade se valeram. Vamos ao fato: Nelsinho bateu contra uma mureta de contenção, com muitas pessoas próximas, de modo proposital, com um objetivo (da equipe: vencer. Do piloto: cumprir ordem) que foi alcançado. Fato posto, vamos avaliar alguns argumentos utilizados para exculpar Nelson Jr. Um membro disse que “quem nunca furou uma fila não pode julgar”. Ora, gente, esse exemplo é, no mínimo, inadequado. Comparar uma fila furada com uma batida no muro, onde inúmeras pessoas correram riscos (público, o próprio piloto e os demais na pista, etc), beira a ingenuidade. Muitos dirão “furar uma fila não deixa de ser uma forma de corrupção”. Exato. É corrupção e é errado. Mas para mostrar a falácia e a incapacidade de se utilizar este exemplo, uso algo mais cotidiano.

Peguemos dois fatos graves: i) cuspir no rosto de um idoso; ii) disparar uma arma contra o rosto de um idoso. Ambos os fatos são graves, sendo que um resulta em morte (e a consequente condenação por homicídio). Dito isso, pergunta-se: cuspir no rosto de uma pessoa é algo banal? Logicamente, não. Mas, mesmo sendo o fato exemplificado de gravidade, não se pode comparar uma cusparada com um projétil de arma de fogo. Compreenderam? É aí que quero chegar.

Formas singelas de corrupção como furar fila, pegar o troco errado no mercado, etc, são atitudes que têm sua gravidade, mas são incomparáveis com uma atitude semelhante a de Nelsinho. Clarificado isso, passamos a outro ponto: muitos disseram “quem nunca errou”. Ok, é um bom argumento, afinal de contas, TODOS erram. Pais, avós, líderes, todos cometem erros. Pais e avós já foram jovens e já cometeram seus inúmeros equívocos. Daí pergunto: pelo fato de eles já terem errado eles NÃO devem repreender um filho rebelde? Por eles terem cometido os mesmos erros na juventude, não devem corrigir seus descendentes? Desse modo, alegar que “quem nunca errou” é incapaz de julgar, também é falacioso, pois se for assim, ninguém poderá condenar ninguém, pois todos em algum momento cometeram um erro.

Você que fura a fila no mercado não pode julgar um homicida que tirou a vida de inocentes. Você que pegou o troco a mais no mercado não pode julgar um estuprador que violentou uma moça. Não. Pois você é tão corrupto e tão bandido quanto. Ora, isso é um grandioso absurdo. Mas os “usuários” dessa argumentação pífia se valem dela como se fosse ouro, contudo, ele mesmo sabe que isso é um argumento equivocado.

Se um dia você bebeu uma ou duas latinhas de cerveja e dirigiu “se escondendo” para não ser pego em blitz policial, é tão corrupto quanto os políticos, que roubam dinheiro da merenda escolar e usam esse dinheiro público, que salvaria vidas, para comprar bens pessoais. Compreendem a incongruência dessa argumentação? De como ela é sensível e beira a ingenuidade? Fatos semelhantes é que devem ser comparados, cada um na sua proporção. Até mesmo o direito relativiza valores supremos na hora de ponderá-los. Como operador dessa área, exemplifico para aqueles que não são.

Você acorda à noite por ter escutado um barulho. Ao averiguar, descobre um homem estranho em sua casa, um bandido, apontando uma arma para você. Um luta contra o outro, por sua vida e, fatalmente, um morrerá. Você se defende e o bandido vem a morrer, em face da luta de ambos. Pois o bem maior do mundo é a vida. Nenhum outro bem é superior ao bem VIDA. Pois você cometeu um delito, matou um homem. Face a isso merece ser punido por força do artigo 121 do Código Penal Brasileiro. Então, temos o seguinte: você levanta na madrugada por causa de um invasor, se defende e merece ser punido por ter sobrevivido? É justo? É correto? Precisa ser juiz, promotor ou advogado para saber que existe um grande erro nessa avaliação? Então, ao ver o bandido em sua casa de madrugada, você deveria ter caído de joelhos e permitir que o meliante lhe tomasse a vida? Essa seria a atitude correta?

E o julgador em um caso típico de homicídio, onde um assassino ceifa a vida de inocentes, ao analisar as provas do processo deveria dizer “deixo de avaliar o presente caso pois, certa vez, quando eu tinha meus 14 anos de idade, dei uma de ‘joão sem braço’ e furei a fila no mercado. Face ao exposto, quem sou eu para julgar, pois também sou corrupto, logo, deixo de julgar declarando a inocência do Fulano (o assassino), pois nem Jesus julgou.”. Preciso dizer que isso é um absurdo? E é um absurdo tão grande quanto a argumentação de escusas ao que fez o Nelsinho.

Gente, entendam: Nelsinho errou feio. Foi punido e, felizmente, deu a volta por cima. Ele pode dizer a pulmões plenos que recomeçou e teve sucesso. E, Deus ajude, terá cada vez mais. Inclusive, seria excelente que mais BRs vencessem. Isso talvez ajude e fomentar o automobilismo no país e, talvez assim, surja um novo Fittipaldi, Piquet ou Senna. Ou talvez surja um Schumacher ou Vettel, ou talvez um Alonso brasileiro.

Pessoal, apenas peço: parem de usar argumentos ao estilo “quem nunca errou, que atire a primeira pedra”. Ninguém será morto por uma avaliação. Ninguém será apedrejado verdadeiramente. E, ato contínuo, não adianta pregar um discurso de paz valendo-se de ofensas. Por exemplo, eu vi muita gente acusar que quem critica o Piquetzinho pela batida é classificado como “massete desesperada”. Alguém me viu falar do Massa nesse texto (a exceção de agora)? O Felipe não perdeu o título em Cingapura. Perdeu em outras 5 ou 6 corridas, que deixou de pontuar.

No entanto, pergunto: como pode pedir que uma pessoa não seja julgada agredindo o interlocutor? É só para mim que é um absurdo maior? Povo, o nome de uma atitude como a descrita acima se chama de HIPOCRISIA. “Não julgue! Pois você também errou! Seu massete revoltado!”. É só aos meus olhos que esse discurso é destoante e pregador do ódio? Aquele que prega que não julgue é o mesmo julgador e carrasco ao ofender. Então, eu peço: não proceda assim.

Não aja conforme descrevi nos últimos parágrafos. De nada adianta apenas “não julgar” para defender seu preferido ofendendo os demais. Nelson Angelo Piquet errou. Deu a volta por cima e deve ser admirado por isso. Por ser um vitorioso. Onde muitos sucumbem, Nelsinho renasceu e mostrou que tem qualidade. Não negou o sangue de seu pai, pelo contrário. Quando poderia ter desistido, foi quando mostrou ser um herdeiro do legado Piquet.

Piquet Jr errou, é fato. Mas se recolheu, amadureceu, reuniu forças e venceu. Parabéns, Nelson Piquet. É bom ver este sobrenome novamente no topo. É onde o sobrenome deve ficar. É de onde jamais deveria ter saído. Que este seja o primeiro de muitos títulos. O primeiro de uma nova era de ouro para o automobilismo brasileiro.

Por fim, mais um momento “paizão”: lembrem-se que um minuto mal trabalhado pode trazer anos de consequências. Um minuto de fúria pode te levar para a prisão. Um minuto de prazer excessivo pode trazer lágrimas sem fim. Um minuto mal calculado pode trazer um desfalque financeiro violento. Lágrimas secam, dinheiro ressurge, bens se reconstroem. Mas o tempo não volta. Se não tivesse batido naquele dia, talvez, hoje Piquetzinho também tivesse vencido a Formula E. Esse texto, talvez não existisse. Ofensas talvez não fossem pronunciadas. Talvez ele fosse campeão mundial de F1. Nós, desta realidade na qual vivemos, não saberemos jamais. Por essa razão, seja o teu primeiro juiz. Teu primeiro julgador. Esqueça as balelas de “não julgar”. Julgue. Todos os dias. E comece julgando a si mesmo, vendo seus erros, seus acertos e onde pode melhorar. Após isso, peça desculpas pelos erros e faça como Nelsinho: quando errar, junte os cacos e recomece.

Afinal, errar como Nelson Angelo Piquet, todos erramos. No entanto, quantos de vocês podem dizer que deram a volta por cima como ele? Eu já errei muito e dei muitas voltas por cima. Vou errar mais vezes e vou me levantar e prosseguir. E você? E você que manda não julgar, você que ofende, você tem essa força? Pense, reflita. Você sabe a resposta.

Parabéns Nelsinho. Que seja o primeiro de muitos títulos!

Abraço a todos.




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