Por:
Will Rauber
Olá
pessoal, sou Will e volto para comentar um assunto que tem gerado alguma
polêmica. Por alguma razão desconhecida (ou conhecida), tem gerado os mais
diversificados sentimentos. Ódio, amor, indiferença... cada um tem o seu
sentimento. No entanto, vamos proceder com uma análise diferenciada (ou tentar
se diferenciar) das várias espalhadas por aí. Umas carregadas de sentimentos
(nefastos, como o ódio, por exemplo), pregando discurso de paz. Enfim, vamos
para a análise.
No
último fim de semana de junho de 2015, Nelson Angelo Piquet, venceu a Formula
E, categoria regida pela FIA. A disputa inteira do campeonato se deu entre dois
brasileiros: o campeão Piquet e Lucas di Grassi. Eu, particularmente, não tinha
um preferido entre eles. Sendo honesto, meu único desejo para os esportistas
brasileiros é que sempre vençam, seja nas lutas, nas pistas, não importa o
esporte, o que importa é que um BR vença. Quer me xingar? Fique à vontade, pois
isso não atrapalha minha análise sobre fatos e desempenho. Eu torci para
Fabrício Werdum contra o Cain Velasquez, mesmo achando que ele fosse perder (e,
felizmente, o gaúcho venceu). Enfim, exemplo dado, prosseguimos.
Nelson
Angelo Piquet, nascido na Alemanha, filho do Tricampeão Mundial cujo nome ele
carrega, cometeu um erro em 2008. Por ordem do (insira a ofensa), seu antigo
chefe, Flávio Briatore, Nelsinho não ponderou muito bem (ou ponderou) e cometeu
um erro que quase acabou com a sua carreira. Como bem disse meu amigo Álvaro em
tópico da comunidade: “Tempo para colocar uma carreira
promissora em risco: três segundos. Tempo para juntar os cacos e continuar em
frente com o que sobrou: sete anos”. Pois é exatamente disso que
tratarei.
O
Piquetzinho podia não ter batido em Cingapura. Podia. Seria mandado embora e,
ao contar o motivo da despedida (não colidir por ordem forçada), seria tachado
de mentiroso. Logicamente, desempenho não foi a razão. Ele costumava andar 3
décimos distante do bicampeão Fernando Alonso (e, digam o que quiserem, para
mim, só andava atrás pela razão óbvia de privilégios que o espanhol exigia,
ainda mais com seu comparsa Flávio...), logo, não é vergonhoso um estreante
andar atrás de um campeão (inclusive, pelo motivo de que não é todo dia que
nasce um Lewis Hamilton).
Erro
cometido, carreira abalada. Nelsinho, portanto, recomeça sua vida longe da F1.
Vai pilotar em outras categorias mostrando sempre o mesmo: que é um grande
piloto. No entanto, amiguinhos, lembrem-se do seguinte: leva-se muitos anos
para se fazer uma fama, um nome. E apenas alguns segundos para atirar tudo isso
fora. O companheiro de Alonso não apenas sujou seu nome, mas sujou o nome de
seu pai, o Mestre. Agora, um momento “Will Paizão”: gente, vocês precisam
entender que quando se nasce filho de algumas pessoas, não podemos envergonhar
nossos pais. Inclusive, (para aqueles que são ou se dizem Cristãos) tem
ensinamento bíblico: “Honrar pai e mãe”. Independente disso ser bíblico ou não,
se você é Cristão ou ateu ou seja lá qual for sua filosofia religiosa, pergunto:
você honra seus pais? Ou você é motivo de vergonha para seu pai e sua mãe?
Quero lembrar-lhes que quando o mundo virar as costas para você (amigos,
namorada(o), parceiros comerciais, etc), os únicos que lhe apoiarão, certos ou
errados, serão seus pais. Deste modo, valorize-os, ame-os, cuide-os, pois eles
são únicos e seus verdadeiros amigos. Por isso, honre-os.
Dito
o acima, repito: quando se nasce filho de determinadas pessoas, não se pode
simplesmente jogar o nome de seu pai na lama. Exemplifico: se seu pai é Tricampeão
Mundial de F1, você NÃO pode macular o nome dele. MUITO da categoria foi
INVENTADO por Nelson Piquet Souto Maior. Trocas de pneu, reabastecimento,
cobertor térmico, etc, logo, você não é filho de mais um, de qualquer um. E,
mesmo que fosse, deve honrar seu pai e sua mãe. Mas dou outros exemplos: seu
pai é pedreiro. Não é o maior pedreiro do mundo, mas um homem honesto, íntegro
que tem o respeito de todos, por ser um bom pai, um homem batalhador. É justo
com ele que você, independente da profissão (médico, advogado, piloto, etc)
seja um corrupto ou faça algo que o envergonhe? Sua mãe é uma grande médica e
você um bandido estuprador. É justo com ela? Sua mãe e seu pai não tem estudo,
mas batalharam a vida inteira para lhe criar e você é um vagabundo, usuário de
drogas, e transforma a joia deles (você mesmo) em um demônio. Repito a
pergunta: é justo com seus pais?
Dados
os exemplos, seguimos. Pelas razões acima expostas é que o erro de Nelsinho não
pode simplesmente ser “ignorado”. E não foi. Felizmente, o nome de seu pai, o
Piquetzão, se manteve íntegro e quem teve que trabalhar ainda mais duro foi
Piquet Jr., que juntou os cacos e recomeçou. O grande prejudicado naquele dia
foi tão somente Nelson Angelo Piquet, pois ele foi julgado, condenado e
“banido” da F1. (obs.: a palavra banido
está entre aspas pela razão dele não ter sido definitivamente banido, mas um
banimento tácito).
Não
sejamos hipócritas: NÓS analisamos, ponderamos e julgamos. Isso é inerente as
atitudes humanas e todos passamos pelo crivo e julgo do público, o tempo todo,
todo dia. Certo ou errado, passamos por isso diariamente. Não adianta de nada
sermos românticos e dizer “quem nunca errou”, inclusive, porque abordarei esse
tópico especial em breve. Eu julguei e condenei o brasileiro. Todos nós
agiríamos diferente. Ou não, pois somos humanos passiveis de erros e acertos.
Nem sempre quem julga uma atitude tem propriedade para julgar, do mesmo que nem
sempre quem não julga deve manter-se inerte. Avaliar e julgar o certo e o
errado faz parte de nossa humanidade. Da mesma forma que os erros também o
fazem. Principalmente pelo seguinte: Nelson errou e foi o ÚNICO prejudicado.
Eu, tu, nós e os demais pronomes pessoais não foram prejudicados, pois nossa
vida seguiu exatamente como estava seguindo. Principalmente por se tratar de um
caso grave, onde um piloto bate para beneficiar o companheiro de equipe.
Contudo,
não podemos ser ingênuos e usar alguns argumentos excludentes que alguns
membros da comunidade se valeram. Vamos ao fato: Nelsinho bateu contra uma
mureta de contenção, com muitas pessoas próximas, de modo proposital, com um
objetivo (da equipe: vencer. Do piloto: cumprir ordem) que foi alcançado. Fato
posto, vamos avaliar alguns argumentos utilizados para exculpar Nelson Jr. Um
membro disse que “quem nunca furou uma fila não pode julgar”. Ora, gente, esse
exemplo é, no mínimo, inadequado. Comparar uma fila furada com uma batida no
muro, onde inúmeras pessoas correram riscos (público, o próprio piloto e os
demais na pista, etc), beira a ingenuidade. Muitos dirão “furar uma fila não
deixa de ser uma forma de corrupção”. Exato. É corrupção e é errado. Mas para
mostrar a falácia e a incapacidade de se utilizar este exemplo, uso algo mais
cotidiano.
Peguemos
dois fatos graves: i) cuspir no rosto de um idoso; ii) disparar uma arma contra
o rosto de um idoso. Ambos os fatos são graves, sendo que um resulta em morte
(e a consequente condenação por homicídio). Dito isso, pergunta-se: cuspir no
rosto de uma pessoa é algo banal? Logicamente, não. Mas, mesmo sendo o fato
exemplificado de gravidade, não se pode comparar uma cusparada com um projétil
de arma de fogo. Compreenderam? É aí que quero chegar.
Formas
singelas de corrupção como furar fila, pegar o troco errado no mercado, etc,
são atitudes que têm sua gravidade, mas são incomparáveis com uma atitude
semelhante a de Nelsinho. Clarificado isso, passamos a outro ponto: muitos
disseram “quem nunca errou”. Ok, é um bom argumento, afinal de contas, TODOS
erram. Pais, avós, líderes, todos cometem erros. Pais e avós já foram jovens e
já cometeram seus inúmeros equívocos. Daí pergunto: pelo fato de eles já terem
errado eles NÃO devem repreender um filho rebelde? Por eles terem cometido os
mesmos erros na juventude, não devem corrigir seus descendentes? Desse modo,
alegar que “quem nunca errou” é incapaz de julgar, também é falacioso, pois se
for assim, ninguém poderá condenar ninguém, pois todos em algum momento cometeram
um erro.
Você
que fura a fila no mercado não pode julgar um homicida que tirou a vida de
inocentes. Você que pegou o troco a mais no mercado não pode julgar um
estuprador que violentou uma moça. Não. Pois você é tão corrupto e tão bandido
quanto. Ora, isso é um grandioso absurdo. Mas os “usuários” dessa argumentação
pífia se valem dela como se fosse ouro, contudo, ele mesmo sabe que isso é um
argumento equivocado.
Se
um dia você bebeu uma ou duas latinhas de cerveja e dirigiu “se escondendo”
para não ser pego em blitz policial, é tão corrupto quanto os políticos, que
roubam dinheiro da merenda escolar e usam esse dinheiro público, que salvaria
vidas, para comprar bens pessoais. Compreendem a incongruência dessa
argumentação? De como ela é sensível e beira a ingenuidade? Fatos semelhantes é
que devem ser comparados, cada um na sua proporção. Até mesmo o direito
relativiza valores supremos na hora de ponderá-los. Como operador dessa área,
exemplifico para aqueles que não são.
Você
acorda à noite por ter escutado um barulho. Ao averiguar, descobre um homem
estranho em sua casa, um bandido, apontando uma arma para você. Um luta contra
o outro, por sua vida e, fatalmente, um morrerá. Você se defende e o bandido
vem a morrer, em face da luta de ambos. Pois o bem maior do mundo é a vida.
Nenhum outro bem é superior ao bem VIDA. Pois você cometeu um delito, matou um
homem. Face a isso merece ser punido por força do artigo 121 do Código Penal
Brasileiro. Então, temos o seguinte: você levanta na madrugada por causa de um
invasor, se defende e merece ser punido por ter sobrevivido? É justo? É
correto? Precisa ser juiz, promotor ou advogado para saber que existe um grande
erro nessa avaliação? Então, ao ver o bandido em sua casa de madrugada, você
deveria ter caído de joelhos e permitir que o meliante lhe tomasse a vida? Essa
seria a atitude correta?
E o
julgador em um caso típico de homicídio, onde um assassino ceifa a vida de
inocentes, ao analisar as provas do processo deveria dizer “deixo de avaliar o presente caso pois, certa
vez, quando eu tinha meus 14 anos de idade, dei uma de ‘joão sem braço’ e furei
a fila no mercado. Face ao exposto, quem sou eu para julgar, pois também sou
corrupto, logo, deixo de julgar declarando a inocência do Fulano (o
assassino), pois nem Jesus julgou.”.
Preciso dizer que isso é um absurdo? E é um absurdo tão grande quanto a
argumentação de escusas ao que fez o Nelsinho.
Gente,
entendam: Nelsinho errou feio. Foi punido e, felizmente, deu a volta por cima.
Ele pode dizer a pulmões plenos que recomeçou e teve sucesso. E, Deus ajude,
terá cada vez mais. Inclusive, seria excelente que mais BRs vencessem. Isso
talvez ajude e fomentar o automobilismo no país e, talvez assim, surja um novo
Fittipaldi, Piquet ou Senna. Ou talvez surja um Schumacher ou Vettel, ou talvez
um Alonso brasileiro.
Pessoal,
apenas peço: parem de usar argumentos ao estilo “quem nunca errou, que atire a
primeira pedra”. Ninguém será morto por uma avaliação. Ninguém será apedrejado
verdadeiramente. E, ato contínuo, não adianta pregar um discurso de paz
valendo-se de ofensas. Por exemplo, eu vi muita gente acusar que quem critica o
Piquetzinho pela batida é classificado como “massete desesperada”. Alguém me
viu falar do Massa nesse texto (a exceção de agora)? O Felipe não perdeu o
título em Cingapura. Perdeu em outras 5 ou 6 corridas, que deixou de pontuar.
No
entanto, pergunto: como pode pedir que uma pessoa não seja julgada agredindo o
interlocutor? É só para mim que é um absurdo maior? Povo, o nome de uma atitude
como a descrita acima se chama de HIPOCRISIA. “Não julgue! Pois você também
errou! Seu massete revoltado!”. É só aos meus olhos que esse discurso é
destoante e pregador do ódio? Aquele que prega que não julgue é o mesmo
julgador e carrasco ao ofender. Então, eu peço: não proceda assim.
Não
aja conforme descrevi nos últimos parágrafos. De nada adianta apenas “não
julgar” para defender seu preferido ofendendo os demais. Nelson Angelo Piquet
errou. Deu a volta por cima e deve ser admirado por isso. Por ser um vitorioso.
Onde muitos sucumbem, Nelsinho renasceu e mostrou que tem qualidade. Não negou
o sangue de seu pai, pelo contrário. Quando poderia ter desistido, foi quando
mostrou ser um herdeiro do legado Piquet.
Piquet
Jr errou, é fato. Mas se recolheu, amadureceu, reuniu forças e venceu.
Parabéns, Nelson Piquet. É bom ver este sobrenome novamente no topo. É onde o
sobrenome deve ficar. É de onde jamais deveria ter saído. Que este seja o
primeiro de muitos títulos. O primeiro de uma nova era de ouro para o
automobilismo brasileiro.
Por
fim, mais um momento “paizão”: lembrem-se que um minuto mal trabalhado pode
trazer anos de consequências. Um minuto de fúria pode te levar para a prisão.
Um minuto de prazer excessivo pode trazer lágrimas sem fim. Um minuto mal
calculado pode trazer um desfalque financeiro violento. Lágrimas secam,
dinheiro ressurge, bens se reconstroem. Mas o tempo não volta. Se não tivesse
batido naquele dia, talvez, hoje Piquetzinho também tivesse vencido a Formula
E. Esse texto, talvez não existisse. Ofensas talvez não fossem pronunciadas.
Talvez ele fosse campeão mundial de F1. Nós, desta realidade na qual vivemos,
não saberemos jamais. Por essa razão, seja o teu primeiro juiz. Teu primeiro
julgador. Esqueça as balelas de “não julgar”. Julgue. Todos os dias. E comece julgando
a si mesmo, vendo seus erros, seus acertos e onde pode melhorar. Após isso,
peça desculpas pelos erros e faça como Nelsinho: quando errar, junte os cacos e
recomece.
Afinal,
errar como Nelson Angelo Piquet, todos erramos. No entanto, quantos de vocês
podem dizer que deram a volta por cima como ele? Eu já errei muito e dei muitas
voltas por cima. Vou errar mais vezes e vou me levantar e prosseguir. E você? E
você que manda não julgar, você que ofende, você tem essa força? Pense,
reflita. Você sabe a resposta.
Parabéns
Nelsinho. Que seja o primeiro de muitos títulos!
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