Por Débora Longen, em 24 de outubro de 2014
Eu tinha 16 anos.
Estava muito insegura, mas todos me diziam pra relaxar que, na hora, tudo daria
certo. Primeiro, fiquei apreensiva, com medo de não saber o que fazer, mas aos
poucos foi melhorando. De repente, uma sensação de extremo prazer tomou conta
de mim, e, quando tudo acabou, eu sabia que queria fazer aquilo de novo, tantas
vezes quanto fosse possível! – Assim foi minha primeira vez em um GP do Brasil
de Fórmula 1.
O ano era 2004 e eu
era uma aluna normal do Ensino Médio, exceto por um detalhe: enquanto a galera
aproveitava o fim de semana pra curtir baladinhas, eu me refugiava num mundo
que ninguém estava a fim de dividir comigo. Afinal, “depois do Senna, não teve
mais graça”, “tem coisas mais legais pra se fazer do que ver carrinhos dando
voltas”, e também “só aquele Schumacher ganha, pra que você assiste Fórmula
1?”. Desde aquela época, tive que aprender a viver em um lugar onde mais
ninguém curte corridas.
Tirando isso, a gente era meio pobre, mas indiscutivelmente feliz.
Tirando isso, a gente era meio pobre, mas indiscutivelmente feliz.
Chegou outubro e eu,
como sempre, tinha muita vontade de ir ao GP do Brasil, mas nem um centavo no
bolso.
Eis que surge a esperança: uma promoção em uma rádio aqui da cidade, onde você deveria se cadastrar e o prêmio era a viagem ao GP, com tudo pago.
Eis que surge a esperança: uma promoção em uma rádio aqui da cidade, onde você deveria se cadastrar e o prêmio era a viagem ao GP, com tudo pago.
Eu enlouqueci, nunca
tinham feito isso antes.
Apesar de ser muito
nova e meus pais relutarem um pouco sobre a ideia de eu viajar sozinha pra
outro Estado tendo problemas de visão, a família toda se mobilizou. Ligamos mil
vezes pra lá, de manhã, à tarde, de madrugada, uma loucura a conta de telefone.
O resultado sairia
dia 15/10, uma sexta-feira à tarde. A viagem seria na sexta seguinte.
Lembro de tudo.
Lembro que só tive aula até o recreio, que eram duas de Filosofia e uma de DDV,
que pedi pra todo mundo torcer por mim e ligar o rádio na hora certa pra me
ouvir gritando. Fui pra casa nervosa, almocei nervosa, lavei a louça nervosa.
Chegou a hora do resultado...
E eu NÃO ganhei.
Até hoje lembro o
quanto fiquei chateada, triste... e, pra piorar, meus pais ligaram pra rádio e
descobriram que a ganhadora havia ligado pra promoção errada por engano – ela
estava tentando outra coisa, ganhar um CD, um jogo de panelas, sei lá, e agora
estaria realizando meu sonho no meu lugar.
O choque com essa
informação bizarra foi tão grande que eles acharam justo fazer umas economias e
pagar a viagem pra mim. Se bem me recordo, eu estava fechada no quarto quase
chorando quando me falaram dessa decisão... e aí eu pulei, cantei, dei risada,
saí contando pra todo mundo, pedindo informações sobre a viagem, sobre a
cidade... faltava uma semana, mas minha mala já estava pronta. E, pra
tranquilizar meus pais, os dois irmãos que cuidavam da agência chegaram a ir na
minha casa conversar com eles e se responsabilizaram por mim.
Eu já tinha ido a São
Paulo uma vez, pra uma consulta com oftalmo, mas fazia quase dez anos. Só
lembrava que a viagem de ônibus durava dez horas, então, conforme a programação
da agência, a gente ia chegar de volta em Blumenau no meio da madrugada de
segunda.
Sendo assim, passei a
semana anterior ao GP planejando meus horários de sono, procurando um boné da
Ferrari na cidade toda (e não achei, tive que mandar fazer um só pra mim),
adiantando deveres da escola e pensando como faria pra entregar um trabalho
importante de Português na segunda. Foi uma boa escolha me ocupar com outras
preocupações, ou meus nervos não aguentariam. Meu Deus, eu iria finalmente a
Interlagos!
Na sexta-feira, dia
22, cheguei da aula, almocei e fui direto dormir, sabendo que o sono durante a
viagem seria curto. Depois terminei de arrumar a bolsa, morrendo de medo de
esquecer algo importante – era minha primeira viagem sozinha. Depois pegamos o
velho Fusca e fomos pro lugar combinado, no centro da cidade.
Lá, uma rapaziada com
seus vinte e poucos anos começava a se conhecer. Quase todos homens, é claro. E
eu lá no meio, uma guria de dezesseis. Hum...
Achamos os irmãos da
agência de turismo no meio da galera, nos despedimos e eu fui “entregue” a
eles. Só depois que cheguei em casa, fui saber que meus pais voltaram se
arrependendo por terem me deixado ir, provavelmente por verem o quanto eu
estava nervosa.
Da viagem, não lembro
muito. Só sei que o ônibus era bem legal e confortável, que ele saiu às 20h02 e
que assistimos Bad Boys 2 a bordo. Claro que hoje não consigo ver esse filme
sem lembrar daquele dia.
Como já imaginava,
quase não consegui dormir. Dormir em ônibus nunca foi meu forte, e a ansiedade,
pela viagem e pelo GP, não ajudou. Tinha um relógio digital bem na minha
frente, então penso que tirei pequenos e desconfortáveis cochilos, pois cada
vez que olhava tinham passado 40 minutos.
Lá pelas 5h20 da
manhã de sábado, acordei e não consegui mais dormir, vendo a cidade crescendo
cada vez mais pela janela do ônibus. Passávamos por pedágios, viadutos, ônibus bi-articulados,
túneis, rios fedorentos... Quando disseram que já estávamos em Sampa, olhei no
relógio à minha frente: 6h02. Exatamente dez horas de viagem.
Saudades daquele
lugar. Mesmo tendo ido só uma vez, me identifiquei muito com a cidade, talvez
por ser uma metrópole, diferente da minha Blumenau, ou porque foi em São Paulo
que minha mãe engravidou. Até hoje, me sinto estranhamente em casa quando estou
lá.
Depois de dar algumas
voltas (o motorista parecia meio perdido), chegamos pra tomar café. O hotel era
bacana, três estrelas, com um monte de comodidades. Como nunca tinha estado em
um hotel antes, desejei ter doze olhos pra poder olhar tudo antes do café.
Enquanto alguém
elogiava minha camisa do Palmeiras, as primeiras amizades já surgiam e a
ansiedade aumentava.
Acabamos saindo do
hotel por volta das 8h15. A terceira sessão de treinos livres começaria às 10h,
mas disseram que o hotel ficava a vinte minutos do autódromo, então tudo bem.
Tudo bem nada! Logo
que saímos, fomos recepcionados por um dos cartões postais de São Paulo: o
engarrafamento. Ônibus de todas as cores, carros buzinando como se isso fosse
resolver alguma coisa, motos cortando por aqui e por ali nas manobras mais
bizarras... Simplesmente não havia como se mexer, claro, todos estávamos indo
pro mesmo lugar. Será que chegaríamos a tempo?
Aproveitando o trânsito parado, os irmãos da agência distribuíram nossos ingressos. Peguei o meu e fiquei um tempão olhando pra ele meio abobada – era lindo! Eu esperava um pedacinho simples de papel, tipo ingresso de cinema, e ganhei um negócio que parecia um cartão de crédito, válido pros dois dias, com um grande G referente ao setor e com a imagem de uma Williams na frente. Seria a lembrança mais legal pra mostrar em casa, com certeza.
Chegamos nos arredores
do autódromo faltando 20 minutos pra começar o treino livre.
Como eu nunca tinha
visto uma sessão livre antes, não me importei muito, só queria ver tantos
carros quanto conseguisse, independente de valer ponto ou não. Como chegamos
‘tarde’, deixamos o ônibus meio longe do portão G e fomos a pé. Não sei onde
paramos, mas lembro que andamos durante uns quinze minutos e passamos por uma
padaria.
Assim que o portão
ficou pra trás, olhei no relógio: 9h58.
E no instante
seguinte, ouvi um som ensurdecedor, de arrepiar, aquele barulho maravilhoso que
estive esperando ouvir por tanto tempo. Todo mundo gritou. Meu relógio devia
estar atrasado, pois se tratava, indiscutivelmente, de um carro de Fórmula 1.
“É uma Williams!”
“Hein, como você
sabe?”
Dei de ombros. Eu não
sabia, só tinha chutado um nome de acordo com o ronco que se ouvia na TV.
Vários anos depois, tive acesso a essa informação e sim, era a Williams do
Montoya.
Em seguida, uma
barulheira de outros motores encheu nossos ouvidos, tornando-se cada vez mais
alta. Sobe escada, desce escada, sobe escada, desce escada – e chegamos. A
antiga reta oposta de Interlagos seria nosso caminho até as arquibancadas.
Claro que a ideia
original seria ficar no fim da reta, onde os grandes momentos da corrida
acontecem e blablablá, mas estava tudo lotado! Como era possível isso? O
campeonato estava decidido já há várias corridas em favor do Schumacher, o
ingresso era caro, e mesmo assim vinha gente do mundo inteiro ocupar lugar ali,
naquela arquibancada tubular desconfortável e sem cobertura.
Cruzamos toda a reta
pela base da arquibancada (as pessoas gritavam coisas que não dava pra entender
muito bem) e achamos lugar junto à outra ponta, o começo da reta. Dos males, o
menor.
Assim que achei um
lugarzinho pra largar minha mochila e sentei, uma Ferrari saiu dos boxes e
ficou ali, bem na minha frente, por uns sete segundos, fazendo simulação de
largada. Foi um negócio mágico, eu sentia que poderia ficar ali a vida inteira
olhando pra ela. E de repente, acelerou com tudo, despejando a potência do seu
V10 no som mais alto e mais incrível que ouvi até hoje. De arrepiar,
literalmente.
Não lembro do
resultado daquele treino, só de algumas coisas que aconteceram depois.
Estando lotadas as arquibancadas à volta, era difícil pensar em sair e voltar sem que alguém tomasse seu lugar, então ficamos ali mesmo a maior parte do tempo. E esse tempo entre uma sessão e outra me apresentou a um mundo novo, que eu pensava não existir: todos à minha volta discutiam F1! Todos entendiam de corridas, de pilotos, de carros, de regras, de games, de miniaturas, muito mais do que eu! E, acima de tudo, todos AMAVAM Fórmula 1 tanto quanto eu. De repente, me senti como se tivesse voltado pra casa, pra junto dos meus, depois de uma longa viagem. Era maravilhoso estar ali. Até hoje digo a quem nunca foi ao GP: uma vez na arquibancada, ninguém mais é tímido, ninguém mais tem medo de falar com estranhos – todos só querem fazer novas amizades, buscar naquelas pessoas um conforto, alguém que diga “Não, você não é o único maluco!”, a força necessária pra viver em um mundo de gente que prefere futebol e que parou de ver F1 em 94.
Estando lotadas as arquibancadas à volta, era difícil pensar em sair e voltar sem que alguém tomasse seu lugar, então ficamos ali mesmo a maior parte do tempo. E esse tempo entre uma sessão e outra me apresentou a um mundo novo, que eu pensava não existir: todos à minha volta discutiam F1! Todos entendiam de corridas, de pilotos, de carros, de regras, de games, de miniaturas, muito mais do que eu! E, acima de tudo, todos AMAVAM Fórmula 1 tanto quanto eu. De repente, me senti como se tivesse voltado pra casa, pra junto dos meus, depois de uma longa viagem. Era maravilhoso estar ali. Até hoje digo a quem nunca foi ao GP: uma vez na arquibancada, ninguém mais é tímido, ninguém mais tem medo de falar com estranhos – todos só querem fazer novas amizades, buscar naquelas pessoas um conforto, alguém que diga “Não, você não é o único maluco!”, a força necessária pra viver em um mundo de gente que prefere futebol e que parou de ver F1 em 94.
Entre o nosso
pessoal, conversava mais com o Luciano e a Izabela (os irmãos que cuidavam da
agência), uma mulher chamava Silvia, um cara que chamavam de Frank e um outro
chamado Rodrigo – e ele é quem mais ficou registrado na minha lembrança.
O Rodrigo era um daqueles caras de vinte e poucos anos que estava indo pela primeira vez ao GP. Mas ele, além de curtir corridas, estava indo por um motivo particular: ele era simplesmente fanático pelo Rubens Barrichello. Eu me considerava muito fã do Rubinho, mas, depois de conhecer o Rodrigo, meu conceito mudou. Ele tinha camisetas, bonés, miniaturas, sabia de cor todos os números da carreira do brasileiro e tinha resposta pronta pra qualquer argumento anti-Rubens que lançassem. Era muito bonito ver a propriedade e a devoção com que ele defendia seus pontos de vista sem desmerecer seus adversários. Foi com ele que mais aprendi naquele fim de semana, e prometi que, se um dia tivesse com quem discutir corridas, era assim que eu queria ser. Faltava ao Rodrigo apenas ver seu ídolo de perto. Ele esperava o desfile dos pilotos mais do que a própria corrida.
E conforme o tempo
passava antes da classificação, também fomos conhecendo gente de Santos, do
Paraná, de Fortaleza, de Goiás, ouvi vários sotaques bem diferentes, mas e daí?
Ali todos falavam a mesma língua.
“E vocês são
‘catarinas’, não são?”
“Somos. Como é que
vocês sabem?
“Porque vocês falam
cantando!”
Falamos?
Enquanto a galera se
enturmava, alguns grupos espalhados pela reta entoavam belos poemas e cânticos.
Se um cara chegava
com a namorada: “A gostosa sobe, o viado desce!” ou a variação “Sóóócioooo,
sóóóóciooo!!”
Se a menina vinha com o pai: “Aqui, sogrão!”
Se a menina vinha com o pai: “Aqui, sogrão!”
Se chegava alguém com
camisa do Grêmio/Inter: “Arerê, gaúcho dá o cu e fala Tchê!”
Se o cara vinha com
um amigo: “Quem come quem??”
E qualquer um que
chegasse depois das 8h e tentasse um lugar bom lá no fim da reta (nosso caso no
sábado) era recebido com o clássico dos clássicos: “3, 2, 1... Desce, filha da
puta!”, além de “Acordou tarde, tomou café, agora vai ficar de pé!”
Sem falar que 2004
foi o ano daquela propaganda em que o cara ficava em Interlagos tentando gritar
“NOVA SCHIN!!” mais alto que o som dos carros, então, obviamente, o pessoal na
arquibancada gritava pedindo Schin o tempo todo. Era lindo, era tudo lindo.
Todo mundo se xingava, ninguém levava a sério e, de um jeito estranho, todos se
gostavam muito. Era como uma família. Aos poucos, comecei a entender o que
levava aquelas pessoas ao autódromo todo ano, mesmo sendo caro, cansativo ou o
campeonato já estando decidido.
Em 2004, o formato do
treino oficial era diferente de hoje em dia. Cada piloto saía pra uma volta
rápida, só uma. Errou, já era. Então, pra quem estava no autódromo, era bem
melhor de acompanhar, pois, com um carro só na pista, dava pra ouvir o locutor.
Deve ser por isso que lembro mais da classificação do que da corrida.
Havia um moleque na Sauber de quem todos esperavam muito: um tal Felipe Massa, que fazia um campeonato bem mais ou menos. Quando ele fez sua volta lançada e vimos que largaria em 3º ou 4º, correndo em casa, nossa, foi uma festa. Esse guri vai longe, hein!
Havia um moleque na Sauber de quem todos esperavam muito: um tal Felipe Massa, que fazia um campeonato bem mais ou menos. Quando ele fez sua volta lançada e vimos que largaria em 3º ou 4º, correndo em casa, nossa, foi uma festa. Esse guri vai longe, hein!
Mas nada no mundo se
compara ao momento da pole do Rubinho. Escrever sobre aquele instante me
arrepia até hoje, foi o ápice da felicidade na minha vida, ainda não vivi nada
tão sobrenatural quanto aquilo, quando a pole é confirmada e a arquibancada
explode em gritos, gente se abraçando e chorando. O amigo Rodrigo parecia fora
de si, tenho certeza que foi o momento mais especial da vida dele também. E na
volta de retorno aos boxes, quando o pole passou na nossa frente bem devagar
com o punho erguido, gritei “Rubinho! Rubinho!” pela primeira vez na vida. Que importância
tem isso? É, pouca gente vai entender.
Não era a primeira
pole dele em Interlagos; já havia conseguido em 2003, mas a corrida tinha sido
um desastre, culminando com seu abandono por falta de combustível e uma vitória
esquisita do Fisichella depois de um acidente bem feio no fim da prova. Mas
dessa vez seria diferente. O companheiro de equipe Schumacher, que mais poderia
lhe atrapalhar, saía de 18º depois de errar no treino (sempre fui fã do Alemão,
mas vaiar ele pelo erro foi legal demais!). Schumi havia vencido o GP anterior,
no Japão, o que lhe tirava a pressão de vencer também no Brasil, e claro, já
havia conquistado seu heptacampeonato havia vários meses. Tudo era favorável a
uma primeira vitória do Barrichello, a atmosfera nas arquibancadas era de um
otimismo quase palpável.
Depois do treino de
classificação, por volta das 14h15, saímos do autódromo. E onde antes havia só
calçada, agora um grande acampamento começava a ser montado. Vários grupos com
barracas, churrasqueiras, megafones, bandeirões e lonas se organizavam,
formando a fila do setor G. Sim, toda aquela gente ficaria ali guardando seu
lugar até o dia seguinte, fazendo bagunça, tomando cerveja e comendo churrasco
naquela atmosfera mágica de Interlagos. Prometi a mim mesma que, algum dia,
ficaria ali também. Devia ser algo incrível, a melhor das experiências!
Começamos a procurar
nosso ônibus nos arredores do autódromo – e nada. Olhavam por todo lado, se
separavam em pequenos grupos pra procurar, ligavam pro motorista, e nada. Já
era quase 15h quando acharam o veículo estacionado, mas sem o motorista, que
continuava não atendendo ao celular. E agora tínhamos mais um problema: lembra
da mulher que ganhou a promoção da rádio no meu lugar? Então, ela acabou indo
ao GP e levando o marido – e, durante as buscas pelo ônibus, os dois também
tinham sumido. Portanto, às 15h20, estávamos com o saldo de três desaparecidos.
E é claro, tinha começado a chover. Bom, né?
Até encontrarmos o
casal desaparecido e o motorista do ônibus, até reunir novamente toda a turma e
fazer uma contagem cuidadosa antes de embarcar, passou das 16h. Imagine o
quanto estávamos com fome, com sede, com sono. Pelo menos o ônibus pegou ainda
mais trânsito do que na ida e pude dormir um pouco até chegarmos ao hotel.
Por volta das 17h15,
estávamos todos na recepção do hotel discutindo com os funcionários, que não
queriam liberar nossos quartos, não lembro bem o motivo. Mais vinte minutos
perdidos até resolvermos o impasse, e essa sucessão de problemas estava
começando a incomodar todo mundo – o que mais daria errado?
Liberados os quartos, só largamos nossas coisas e tomamos um banho rápido, afinal ainda tínhamos compromisso naquele dia: dei a sorte de ir ao GP pela primeira vez num ano de Salão do Automóvel, e estava muito a fim de conhecer a exposição. Se fosse como mostravam as reportagens da TV, devia ser um lugar de encher os olhos.
Liberados os quartos, só largamos nossas coisas e tomamos um banho rápido, afinal ainda tínhamos compromisso naquele dia: dei a sorte de ir ao GP pela primeira vez num ano de Salão do Automóvel, e estava muito a fim de conhecer a exposição. Se fosse como mostravam as reportagens da TV, devia ser um lugar de encher os olhos.
Pena que eu não tinha
câmera na época. Na verdade, só uns dez de nós tinham, e algumas eram
emprestadas.
Do hotel até o
complexo do Anhembi, mais trânsito. Chegamos ao lugar por volta das 19h, e a
exposição fechava às 22h. O Salão estava quase lotado e a fila pra comprar
ingresso era enorme, parece que metade de Interlagos teve a mesma ideia que a
gente.
Uma vez lá dentro, me
vi diante de mais um mundo que eu pensava não existir: um mundo de carros
incríveis, ao qual os fãs de automobilismo tinham mais acesso do que nunca. Era
possível analisar os veículos de alto a baixo, por todos os ângulos, tirar
dúvidas com os fabricantes, entrar nos carros pra tirar foto, ou simplesmente
ficar babando nos esportivos. A gente se sente, ao mesmo tempo, muto rico e
muito pobre. É uma sensação ótima.
A um certo momento, a
fome apertou e fomos procurar comida. Achamos um lugar no Salão que vendia
pizza e concordamos em provar a tradicional pizza de São Paulo. Nos
decepcionamos, não tinha nada de especial. As pizzas daqui eram bem melhores.
Depois de andar por
mais alguns stands, vimos uma aglomeração de gente cercando um dos carros e
fomos ver do que se tratava. E bem ali, quase ao alcance das nossas mãos, uma
das McLaren do Senna sorria pra nós – em 2004 completavam-se dez anos do
acidente de Ímola. Nunca tinha estado tão perto de um carro de F1, foi
maravilhoso, dava vontade de esconder ele no bolso e levar pra casa como
lembrança.
Depois ainda passamos
por uma Ferrari; se não me engano, era a F2002, que considero até hoje uma das
Ferrari mais bonitas de todos os tempos. Em volta dela, por um momento,
pensamos ter visto o Schumacher – mas tratava-se de um sósia do Alemão, um
figuraça que eu já tinha visto na TV em outros GPs do Brasil. Maior vontade de
chegar perto do cara. Imagina eu voltar pra casa com uma foto do “Schumacher”?
Pena a multidão cercando o cara e o carro, era muito difícil chegar nele, e tínhamos
pouco tempo antes de o Salão fechar. No fim, três horas lá foi muito pouco, a
vontade era ficar uns dois dias.
Faltando cinco
minutos, saímos do Salão e fomos ao local combinado esperar nosso ônibus. A
senhora-do-prêmio-da-rádio não tinha ido conosco ao Anhembi, então estávamos
todos lá. Exceto o ônibus, de novo.
Mais uma vez, ficamos
de molho sentados nas calçadas esperando. Depois das 22h20, começaram a tentar
ligar pro motorista, sem sucesso. Depois das 22h40, alguns saíram pelos
arredores procurando pelo ônibus e seu condutor. Depois das 23h, não sabíamos
mais o que fazer.
Ligaram pra companhia
de ônibus aqui de Blumenau exigindo satisfações, e ninguém conseguia contato
com o motorista. Andavam por todo o lugar à procura, e nada. Enquanto isso, atrás
de nós, os funcionários do Anhembi começavam a fechar tudo e ir pra casa.
Olhando
distraidamente na direção do prédio, de onde saíam vários carros, de repente
percebemos, em um deles, o tal sósia do Schumacher saindo – agora sem o
macacão, com cara de gente normal, mas ainda IGUAL ao Alemão. Corremos até ele
e pedimos que parasse o carro uns instantes pra gente poder bater um papo. Ele
foi muito legal, contou sobre suas aparições em eventos, sobre a reação das
pessoas ao vê-lo, e nós contamos nosso drama em ter que chegar ao hotel
aparentemente sem nosso ônibus. Uma pena tão pouca gente ter câmeras naquela
época. As poucas máquinas já estavam sem bateria, seriam recarregadas durante a
noite. Assim sendo, ficamos sem foto, mas com essa lembrança tão legal.
Deu 23h30 e nem sinal
do nosso transporte. Ok, era preciso chegar de volta no hotel, não poderíamos
passar a noite ali. A melhor ideia? Convocamos uma tropa de táxis e depois
colocamos a corrida na conta na empresa de ônibus. Por fim, foi muito engraçado
ver aqueles dez táxis cruzando juntos as avenidas de São Paulo. As pessoas na
rua devem ter estranhado, “provavelmente outro taxista foi assassinado e a
frota está fazendo protesto”. E, quase meia-noite, chegamos finalmente ao
hotel. Àquela altura, não importava mais o nível de conforto, comodidades, nada
– só queríamos um lugar que tivesse CAMAS!
Domingo, 4h10, hora
de acordar. O grande dia da minha vida estava começando, e eu só queria dormir
mais umas oito horas. Sabia que iria dormir pouco na viagem, mas assim já era
demais.
Arrumamos tudo,
tomamos café, fechamos nossa conta no hotel e – Tcharam! – lá estava o ônibus
nos esperando normalmente, o motorista com a maior cara de bunda do mundo. Não
lembro o que aconteceu no dia anterior pra ele sumir, mas no domingo estava
extremamente gentil e atencioso. No mínimo levou uma merecida mijada dos
patrões quando foi encontrado.
Chegamos bem mais
cedo ao autódromo, antes das 7h30 já estávamos passando pela revista policial
no portão G. Chegamos ao portão, passamos novamente nosso belo ingresso – e ele
não foi devolvido. A lembrança mais legal do GP havia ficado na bilheteria, sem
nenhum motivo aparente. Só uns anos depois, começaram a permitir que as pessoas
ficassem com seus ingressos. Hoje já tenho alguns, mas o de 2004 era especial,
era o primeiro, e nunca vou recuperá-lo.
Porém, como uma forma
divina de compensação, logo depois de passarmos pela entrada, umas pessoas
estavam distribuindo alguma coisa, que peguei sem ver o que era. Só quando já
estava na arquibancada – agora no fim da reta, próximo ao pessoal que tinha
passado a noite ali – é que abri o pacotinho e vi esse chaveiro que está aí na
imagem. Imediatamente, pendurei na mochila, e achei que combinou muito bem.
Sempre quis ter um chaveiro de carrinho de F1, mas não se encontra essas coisas
por aqui.
A galera das barracas
era a parte mais divertida do setor G, os mais bagunceiros, os que mais
cantavam, conversavam e zoavam quem chegava tarde. Desejei ser como eles algum
dia, ter realmente uma turma de amigos pra encontrar lá todo ano. Em pouco
tempo, já estávamos enturmados, dividindo bisnaguinhas com queijo, contando
histórias e ajudando a zoar os atrasados.
Gritar “DESCE FDP!” é
revigorante, todo mundo deveria tentar um dia.
Depois das 9h, o sono
bateu forte. Vi gente dormindo, inclusive. Mas durou pouco tempo, pois o
domingo em Interlagos não tinha só F1; logo começou o revezamento de categorias
rasgando a reta à nossa frente. Carros, motos, bikes, cada um muito rápido
dentro do limite da sua potência... e ali, próximo à Curva do Lago, aconteciam
as melhores ultrapassagens e os acidentes mais toscos.
Quando acabaram as
corridas preliminares, já era perto do meio-dia, a tensão aumentava e logo
seria o desfile dos pilotos em carro aberto, momento que todos esperávamos
muito.
Começou a chover. A
chuva vem da represa, amigo – e incomoda todo mundo. Era fraca, porém
constante, obrigando-nos a vestir nossas capas de chuva. Quanto ao Rodrigo, o
fã do Rubinho, ele havia usado sua capa já no sábado, quando saiu na chuva à
procura do nosso ônibus. A capa dele rasgou e ele não tinha comprado outra.
Como os vendedores ambulantes na arquibancada estavam cobrando muito pelas
capas, ele resolveu descer e procurar em barracas de lembrancinhas ou com
outras pessoas – e foi assim que o Rodrigo perdeu o desfile dos pilotos e a
chance de ver o seu ídolo.
Sério, deu muita
pena. Anunciaram a passagem do carro no alto-falante, todo mundo começou a
chamar pelo Rodrigo, mas só conseguiram filmar o desfile pra ele ver depois, o
que provavelmente não teve a menor graça, principalmente porque puxávamos
novamente os gritos de “Rubinho! Rubinho!”. Todos tínhamos visto o Rubinho,
menos ele.
A chuva diminuiu,
depois parou, mas decidimos ficar com as capas, pois disseram que Interlagos
era mesmo aquele chove-para desgraçado. Um pouco mais de gritos e musiquinhas e
logo era a hora da largada.
Prendi a respiração –
Dava pra ouvir, na reta principal, os pilotos aquecendo os motores, reagindo ao
apagar das luzes, a galera gritando no setor A, a velocidade dos carros
diminuindo como música no fim da reta, junto ao S, e depois já era possível
vê-los contornando a Curva do Sol e acelerando até o talo na reta oposta, a
“nossa” reta oposta. Quando passaram todos juntos por nós, Barrichello ainda
líder, seus V10 na velocidade máxima, a galera se virava do avesso em gritaria
e mãos erguidas, e a arquibancada tremeu, literalmente. Fiquei com um pouco de
medo, não sabia se aquilo era normal, tive que me segurar na mochila à frente
pra garantir o equilíbrio, mas a galera das barracas disse depois que era assim
mesmo, muito barulho, muita velocidade, muita pressão no ar, as arquibancadas
reagiam a isso. Na segunda volta, quando passaram novamente todos juntos, já
achei sensacional aquele pequeno terremoto.
Mais ou menos na
quinta volta, sentimos que tinha começado a chover de novo, bem como disseram
os veteranos. Que bom termos ficado com as capas, do contrário teríamos perdido
o motor do Jenson Button estourando e o carro parando BEM na minha frente.
Aquele fedor de motor estourado é um negócio viciante, juro. O carro ficou ali
por um tempo considerável, depois vimos todo o trabalho dos guinchos e
comissários na limpeza do local; foi muito legal, um dos momentos mais
marcantes.
Com o aumento da chuva,
os pilotos foram obrigados a parar nos boxes pra troca de pneus. A Ferrari
demorou uma ou duas voltas a mais pra chamar Barrichello e, devido às
dificuldade das condições da pista, ele foi prejudicado nessa estratégia,
voltando em terceiro, atrás de Montoya e Raikkonen. E foi durante essa dança de
posições que Felipe Massa liderou uma corrida de F1 pela primeira vez. Foram só
duas ou três voltas, mas ah, esse guri vai longe!
O restante da corrida
foi, na verdade, bem sem graça, exceto pela ótima perfórmance do Schumacher,
largando lá no cu do mundo, fazendo ultrapassagens sensacionais na nossa curva
do lago e terminando num ótimo 7º lugar, à frente do Massa. Rubinho acabou
terminando mesmo em 3º, seu melhor resultado em um GP do Brasil, mas com gosto
de derrota.
Acabada a corrida,
juntamos rapidamente nossas coisas, nos despedimos dos novos amigos que não
tinham tanta pressa em sair e deixamos as arquibancadas.
No alto das escadas
que ligavam o setor G ao portão, olhei pra trás já com saudade, enquanto os
alto-falantes tocavam agora uma música do Jota Quest, popular na época, chamada
“Mais uma Vez”. Entre os versos, dizia “Você dividiu comigo sua história e me
ajudou a construir a minha” e “Nós vamos ficar juntos mais uma vez”. Essa foi
minha promessa àquele lugar quando saí – eu tinha que voltar, tinha que viver
aquilo de novo.
Nosso ônibus estava
no lugar combinado, com motorista e tudo. Ninguém tinha se perdido. A chuva
tinha parado e as capas já estavam jogadas nas lixeiras. Tudo estranhamente
tranquilo, em pouco tempo já estávamos na estrada. E foi só quando saímos da
capital que percebi – a única lembrança física que pude levar daquele fim de
semana acabou sendo o chaveiro.
No ônibus, antes de
adormecer, peguei o chaveiro e fiquei olhando pra ele, meio fazendo carinho
(ainda tenho esse hábito, inclusive) e lembrando de tudo o que aqueles dias
significaram.
Sua noção de “gostar
de Fórmula 1” muda totalmente depois do primeiro GP do Brasil. Você percebe, lá
em Interlagos, que a paixão que une aquelas pessoas é algo bem maior do que
aquilo que você vivia sozinho, em casa, a cada duas semanas. A energia que se
cria naquelas arquibancadas é como um combustível, que abastecerá você até a
próxima vez – e, uma vez lá, você se torna dependente desse combustível. Eu sei
porque já viciei meu irmão também, e ele nem gostava de corridas.
E é engraçado como as
coisas vão se encaixando. A partir daquele GP do Brasil de 2004, muitos
momentos decisivos da minha vida passam pela F1.
Primeiro, quando
voltei pra casa, meus pais disseram que não pagariam mais pra eu ir a um GP; da
próxima vez que eu quisesse ir, teria que ser com o fruto do meu trabalho.
Então, com a ideia
simples de testar meus conhecimentos pra buscar um trabalho e poder ir de novo
a Interlagos, me inscrevi pra prestar o Enem no ano seguinte – naquela época, o
Exame não era tão fundamental. E infelizmente pra mim, a prova caiu bem no dia
do GP do Brasil, bem no dia em que Alonso ganhou seu primeiro título. Fiquei
com muita raiva, de mim mesma, da FIA, do mundo... fazia anos que não perdia
uma corrida, e fui perder logo a definição de um título, a conquista de um
récorde pra época – pra nada, só por capricho. Enfim, deixei a corrida gravando
e vi depois, em casa.
No começo de 2006,
fiquei sabendo que uma faculdade aqui da cidade estava aceitando a nota do Enem
juntamente com o histórico escolar como forma de ingresso nos cursos, sem
precisar de vestibular. Naquele tempo, isso era novidade. Por coincidência, a
instituição estava fazendo um acordo com as famílias de funcionários públicos
envolvendo bolsas de estudos, e, com a ascensão do ProUni, poderíamos tentar.
E, também por coincidência, na hora de escolher o curso que gostaria de fazer,
vi que aquele era o único lugar de Blumenau que abriria uma turma de Jornalismo.
Pra que eu queria estudar Jornalismo? Óbvio. Pra poder, um dia, escrever sobre
automobilismo. Meu objetivo ainda é esse.
E em questão de
quatro dias, descobri a oportunidade, fiz a inscrição, passei na seleção (mesmo
sem ter estudado pro Enem e ter feito a prova com muita raiva), me matriculei
na faculdade, comprei os materiais e as aulas começaram.
Na faculdade, tudo o
que os professores pediam, eu relacionava à F1, carros, corridas, pilotos,
torcida, esportes. Matérias que envolviam política, economia e administração eu
achava chatíssimas, só porque não conseguia adaptar em nada.
Um dia, marcamos um
trabalho de grupo – uma visita a um bairro pobre aqui da cidade onde faríamos
entrevistas, fotos e videos – e eu esqueci que era o sábado do GP do Brasil de
2007, decisão de título entre Alonso, Kimi e Hamilton, alucinante. Inventei uma
desculpa, não lembro qual, e fiquei em casa.
Por sorte, o grupo se
reuniu de novo na outra semana, consegui acompanhá-los, participei do trabalho
e não fiquei sem nota. Mas me arrisquei demais, era um trabalho
interdisciplinar e valia a metade da nota do semestre.
Chegou a hora do
temido TCC, e a professora dizia pra escolhermos um tema pelo qual fôssemos
“apaixonados”, a fim de tornar o trabalho mais prazeroso. Ok, Fórmula 1 então.
Mas como?
Pensei um pouco e
cheguei a um tema: meu objetivo seria provar que um fórum da internet sobre F1
poderia ser, por si só, um meio satisfatório de comunicação e troca de
informações.
Assim, a parte da
graduação que todos odeiam foi a que eu mais curti, porque pude explorar melhor
o lugar que mais gosto de frequentar no meu tempo livre; entrevistei os
participantes, fiz comparações, contei um pouco da história das mídias sociais,
foi muito legal. E tudo sempre pensando em F1. O que seria de mim sem ela?
Provavelmente faria algum projeto muito sem graça e sofreria pra terminar.
Uma coincidência
nisso tudo é que meu orientador do TCC foi o mesmo Luciano, o da agência de
turismo que me levou a Interlagos pela primeira vez, cinco anos antes, e só fiz
a associação entre as figuras dos dois depois de decidir o tema.
Mesmo com o diploma
em mãos, nunca consegui emprego na minha área especificamente (já procurei
muito, de todas as formas), mas no começo de 2012, quando comecei a almejar meu
emprego atual, vi que exigia no mínimo uma graduação em andamento. Então, pelo
fato de a minha função atual ter ligação com mídias sociais, comunicação e um
pouco de relações públicas, e de eu ter uma graduação completa em Jornalismo
pra concorrer pela vaga, prefiro imaginar que a faculdade já me ajudou. Gosto
muito do que faço hoje em dia, e, afinal, meu trabalho já dá frutos o
suficiente pra ir ao GP do Brasil por conta própria todo ano, e sobra.
Quanto ao meu
chaveiro, hoje faz dez anos que tenho ele sempre comigo. Quando vou viajar pra
qualquer lugar, levo ele junto pendurado em alguma bolsa. Ele já representou
uma promessa de reencontro enquanto eu estava namorando e um selo de paz quando
não estava mais. Vou com ele pro trabalho todos os dias. Ele estava comigo
desde o primeiro dia da faculdade até quando apresentei meu TCC, quando sofri
um acidente em 2010, quando voei pela primeira vez, e claro, quando voltei a
Interlagos, em 2011. Hoje ele é de longe meu bem mais precioso, por ser a única
lembrança palpável do melhor fim de semana da minha vida.
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