quarta-feira, 15 de abril de 2015

A Hora e a Vez do Pacheco Calar

Por Carlos Swancide




A gente se comunicava nas páginas da Placar, Quatro Rodas e Grid.
Conhecíamos a voz do Reginaldo Leme e o ronco dos motores.
Trocávamos figurinhas antes da temporada começar.
Éramos poucos num país de 150 milhões em ação.
Nosso domingo era sagrado, às 9 da manhã.
Alguns conheciam Jacarepaguá, Interlagos.
Ninguém torcia contra Maurício Gugelmin.
Na primeira fila, esperávamos ele ou ele.
Piquet ou Senna senão Prost e Mansell.
Sem internet, modem, pen drive e HD.
Nossa F1 era de papel, arcades e TV.
O tema da vitória era uma rotina.
Mais um GP, mais uma vitória.
(esse era o slogan da Shell).
Quase nunca da Ferrari.
McLaren, Williams...
Podia ultrapassar.
Sem asa móvel.
Menos Andrea.
De Cesaris...

Não havia espaço para os pachecos nos anos 1980.
Os especialistas em fofocas e numerólogos de mercado.
As torcidas de grife alimentadas por blogs e relações públicas.
Quem torcia para Piquet não queria ver Senna morrer.
Quem torcia para Senna não queria ver Piquet sem pé.
Todos achavam que outros brazucas podiam dar certo.
E no GP do Brasil aposentávamos a seleção brasileira.

Em 3 de Novembro de 1991, tudo acabou. A madrugada durou 16 voltas. Piquet, nunca mais. Título mundial, nunca mais. Senna, primeiro dos perdedores. Nos próximos 9 anos, 9 vitórias e 6 poles.

O jejum levou à recusa e a recusa levou ao rancor. E o rancor fez mal a Galvão Bueno.

O pacheco recusa dar a mão para a velhinha atravessar a rua. Só se for da sua laia.
Não basta ser velhinha verde-amarela. Tem que ganhar a confiança do torcedor.
O pacheco queria ser Rubens Barrichello ou Felipe Massa ou Felipe Nasr.
Sabe mais de F1 do que os que queimam a bunda (Luciano Burti).
Abre mão de argumentos como Barrica e Massa, de vitórias.
Não trocaria a graxa de Nélson Piquet ou Ayrton Senna.
O pacheco não sabe admirar a velocidade e o caráter.
Excesso de um, falta do outro, fragilidade no meio. 
Tudo dá pena quando a alma se apequena.
O pacheco quer apenas juros e correção.
Danem-se as circunstâncias e azares.
Os demais pilotos meros apêndices
Slogans, gritos de guerra, memes
KERS, asa móvel, GPS, Tweets
Enquanto houver pachecada
O jejum será eterno
 (e o Vareio?)




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