Por: Álvaro Mendes
Wanderley
Quando
estava prestes a começar este texto, pensei em escrever sobre uma porção de
coisas que fizeram nascer e crescer o fascínio que a Fórmula 1 exerce na alma
deste simples mortal, desde o ronco dos motores, passando pela lembrança de
momentos de arrojo e destemor de todos os poucos escolhidos para guiar esses
bólidos fantásticos, dos momentos de glória, de desilusão…
Nos
mais de trinta anos de lembranças vivas que tenho em minha memória – as
primeiras datam de 1982, ano dos acidentes fatais de Gilles Villeneuve e
Riccardo Paletti – histórias não me faltam, e eu gostaria de poder falar do
esporte que mais amo acompanhar em minha vida com a mesma alegria que fazia
aquela criança de seis anos sair de onde estivesse para perto da televisão ao
ouvir as chamadas dos GPs transmitidos na Globo, e que ficava louco de
ansiedade esperando pelo “Sinal Verde”, programa de quinze minutos exibido às
vésperas das corridas, que resumia o que acontecia na pista nos treinos de
sexta e sábado, entre as novelas das seis e das sete da emissora carioca.
O
tempo foi passando, passando, e quanto
mais a Fórmula 1 se tornou apaixonante, fui me tornando mais atento, ávido por
desvendar detalhes, minúcias e formar opiniões sobre aquilo que amo acompanhar.
Resumindo: fui me tornando mais e mais crítico, chato e perdi uma boa dose de
romantismo. Infelizmente – ou não – é o que acontece com quase toda criança de
seis anos ao se tornar um adulto de quase quarenta. E é esse adulto de quase
quarenta anos que, de uma hora pra outra, resolveu marcar sua posição sobre o
acidente sofrido por Fernando Alonso em 22 de fevereiro último, durante a segunda
sessão de testes de pré-temporada realizada no Circuito de Barcelona. Na
ocasião, o Mclaren-Honda guiado pelo espanhol que estava em uma volta lenta, de
repente guinou para a direita na saída da curva quatro do traçado catalão e
espatifou-se de lado no muro interno, do lado oposto.
Não
pretendo aqui levantar hipóteses sobre quais circunstâncias poderiam ter
causado a batida, e que permanecem incógnitas até mesmo para boa parte dos que
vivem o cotidiano da categoria. Se aqueles que vivem da Fórmula 1 ainda não
sabem o que de fato aconteceu, de que adiantaria um simples leigo fomentar
hipóteses à toa? Ficar velho teve outro efeito colateral, no meu caso: aprendi
a ter senso de ridículo. Pouco, mas aprendi.
Voltando
à vaca fria – como diriam os mais velhos – , o que me chamou a atenção logo que
soube do acidente foi a escassez de informações sobre como tudo se deu e,
principalmente, sobre o estado de Alonso imediatamente após a batida. Mesmo em se
tratando de um treino de pré-temporada, quando o aparato de comunicação, assim
como a disponibilidade de imagens, é menor se comparados ao que existe durante
a temporada regular, os detalhes demoravam a sair.
As
primeiras informações deram conta de que Alonso teria sido resgatado do carro
desmaiado, mas que havia recuperado a consciência minutos depois e sido
transportado de helicóptero ao hospital, onde permaneceu internado por quatro
dias, tendo saído andando após receber alta.
Apesar do que pareceu ser um susto, o piloto foi vetado para participar
da terceira sessão de testes, que ocorreu entre os dias 26/02 a 01/03 na mesma
pista.
Até
ali, o consenso apontava para um acidente sério com consequências, até certo
ponto, pequenas, mas que precisavam ser tratadas e observadas com o devido
zelo.
O
primeiro indício de que os desdobramentos do acidente não teriam sido tão
tranquilos quanto se supunha foi confirmado durante a semana, com a divulgação
oficial da McLaren de que Alonso não participará da prova de abertura da
temporada de 2015, em Meulbourne, no próximo dia 15. Para relembrar
rapidamente, a última vez em que um acidente causou a ausência de um piloto da
corrida seguinte em um espaço considerável de tempo foi em 2012, quando Sergio
Perez, então piloto da Sauber, perdeu o controle de seu carro na saída do túnel
de Mônaco e espatifou-se no muro a mais de 200 km/h. Era dia de treino de
classificação, e Perez, que ficou de fora na corrida no domingo, acabou também
não participando da corrida seguinte, que aconteceu quinze dias depois, no
Canadá, por ter passado mal após a primeira sessão de treinos livres no
circuito da Ilha de Notre Dame.
Sobre
a situação de agora, embora a ausência de Alonso pudesse ser até cogitada, uma
coisa é um burburinho, outra coisa é uma notícia confirmada pela equipe do
piloto.
E
se a primeira notícia causou perplexidade, a segunda aumentou a apreensão
geral, ao dar conta de que as primeiras palavras ditas por Alonso após a batida
teriam sido faladas em italiano. E mais: que o espanhol pensava estar na
Ferrari, de onde saiu ao fim da temporada passada.
Todas
essas informações não deixam dúvida de que a situação foi realmente séria, mas
não há natida que justifique tamanho retrocesso da memória de curto prazo, a
não ser qua algo provocasse um curto circuito – literalmente – no cérebro de
Alonso. Foi então que me lembrei de um ex-colega de trabalho já aposentado que
dizia: “Não há nada tão ruim que não possa piorar!”.
Pois
bem: entre a terça e a quinta-feira, novas informações surgiram.
Primeiro,
que Alonso confessou ter sentido um choque – segundo se expecula, de 600 volts –
antes de bater. Como assim? Um choque? Como isso pode ser admissível, se a
premissa de um carro de corridas é manter o piloto protegido de diferenças
eletroestáticas, dada a quantidade de motores elétricos que possui para poder
foncionar?
Depois,
o mais novo desdobramento parece ter partido das equipes, que podem vir a
boicotar o GP da Austrália, caso as circunstâncias e a situação exata de Alonso
não sejam ambas esclarecidas definitivamente, conforme repercutiu o site Grande
Prêmio, aqui:
Pois
é, gente. Antes o acidente tivesse acontecido por iniciativa do próprio Alonso
para não ter de guiar o Mclaren-Honda e não pagar mico na corrida que marca o
início do terceiro ciclo da montadora japonesa na Fórmula 1, como muita gente
especulou nas redes sociais, por conta de o novo carro e, principalmente, de o
novo motor ainda estarem longe de serem competitivos, conforme os testes de pré
temporada mostraram. Antes fosse por isso… Só que ninguém mais é criança, e o
que está sendo tratado até agora pelas autoridades da Fómula 1 com a omissão
típica das crianças quando fazem uma besteira, na verdade é algo sério. E
quando a coisa fica séria, meus pais me ensinaram que é menos pior dizer a
verdade.
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