Olá
a todos.
Bom,
resolvi vir aqui e escrever um pouco, e estive pensando no que escrever, em
qual tema? Alguma corrida? Alguma equipe? Alguma “treta”?
A
resposta não demorou muito a vir em minha mente, pois como estou assistindo
corridas antigas de Fórmula 1 e assisti a temporada “título” desta coluna,
pensei com meus botões: “Lauda em 1984”.
Ora,
mas por quê? Quais as razões? Não vai falar de Senna?
Decidi
escrever sobre essa temporada, pois foi a que terminei de ver, e por ter sido o
tri de Lauda, “the computer man”.
O panorama era o seguinte:
A Mclaren vinha com seus novos motores “Tag
Porsche” que estrearam em 1983 em Zandvoort (assim como a Williams fez com os
motores Honda), para no ano seguinte estar tudo prontinho, e assim o foi, pois
desde o começo da temporada, se via que os carros de Ron Dennis eram os
melhores, seja pelo motor, seja pela parte tecnológica, seja pela aerodinâmica,
seja pelo conjunto da obra.
Para o austríaco seria uma temporada em que
teria um novo companheiro de equipe. Alain Prost saiu da Renault e se mudou pra
Inglaterra. Se sabia que o francês era muito veloz, mas ao mesmo tempo era
azarado que só, pois vinha de dois vices campeonatos seguidos. O de 1982 em que
Keke Rosberg foi o campeão vencendo apenas uma corrida (Suíça) e em 1983, onde
também tinha o carro mais rápido, mas Nelson Piquet, da Brabham, foi bicampeão
em um final de temporada cirúrgico.
Vamos lá, vamos começar a destrinchar esta
temporada, para vermos como Lauda conseguiu o seu tri-campeonato.
Na primeira prova do ano, em Jacarepaguá,
Elio de Angelis, da Lotus, foi o pole, Prost largou em quarto e Lauda em sexto.
Disputada sobre um calor terrível, um a um os
carros foram apresentando problemas, até que Prost conquistou 9 pontos, já
Lauda teve problemas, mas isso mudaria em Kyalami.
Em termos de traçado, eram parecidos os
circuitos da África do Sul e o que se corria aqui no Brasil, o de Jacarepaguá.
Trechos de alta velocidade, um circuito desafiador para motores, ou seja, mais
uma corrida de resistência, porém, tudo mudaria nessa corrida por um pequeno
fator que se tornou primordial.
Prost teve problemas e teve que largar de
último, enquanto Lauda saiu de oitavo. Ambos deram um show nesse dia, enquanto
Lauda assumia a ponta e sumia com relação aos seus concorrentes, o francês
ultrapassou um a um e terminou em segundo lugar. Com certeza todos da equipe
ficaram muito contentes, pois ali se teve a certeza de que o ano seria da
equipe inglesa.(Derek Warwick, da Renault, chegou uma volta atrás, em terceiro)
Em Zolder a vitória ficou com Michele
Alboreto, da Ferrari, e foi uma vitória que deixou todos espantados, pois a
equipe italiana tinha começado o campeonato de uma maneira muito esquisita, e o
carro claramente não tinha a mesma combatividade do ano anterior. Isso, somado
ao fato de que a corrida seguinte seria em Imola, deixou os “tifose” malucos da
vida.
Pena que no caminho tinha uma Mclaren, que
venceu em Imola, com Prost. Sobrou “saudar” o segundo colocado, o também
francês René Arnoux, que era muito “amigo” de Prost, diga-se de passagem. Lauda
abandonou. “E Alboreto?” pergunta você, amigo leitor. Largou em décimo terceiro
e abandonou na volta 23.
Com isso, o campeonato apresentava a seguinte
situação de pontos.
Prost tinha 24 pontos, com Warwick tendo 13
pontos. Lauda vinha com 9 pontos empatado com Alboreto, na quinta posição.
A prova seguinte foi na França, este ano
disputada em Dijon, um circuito curto, estreito, de curvas longas e de alta
velocidade, era perfeito para Prost vencer, conseguir mais um triunfo na sua
casa, porém...
... Lauda venceu, sendo que a sua última
vitória em terreno francês foi em 1975, e pode-se dizer que essa corrida marcou
o nascimento do austríaco para conquistar o tri-campeonato. E olha que o rapaz
largou em nono. Era uma característica de Niki, largar no meio do grid e vir
escalando o pelotão, me fez lembrar um certo americano baixinho, feio, que em
1994 teve um canhão nas mãos na Indy e que não deu chance a ninguém... mas isso
é outra história! ;)
De quinto, Niki pulou para vice líder no
campeonato, com 18 pontos. Prost teve uma prova ruim, com problemas, e terminou
em sétimo lugar, ou seja, manteve seus 24 pontos.
Próxima prova... Monaco.
Sim, meus caros, Monaco 1984, para muitos (e
para mim também), uma das provas onde um piloto (ou mais de um) mais se
sobressaiu com relação aos outros – falo de Senna e Belloff, mas eles não os
meus alvos, não hoje, ficam para um outro dia, principalmente o alemão.
A corrida foi marcada pela politicagem na
categoria, apesar de eu concordar que sim, a chuva tinha apertado um bocado
quando a prova foi paralisada, mas também devo lembrar que não era um circuito
permanente, e sim Monaco. Prost venceu aquela corrida que ficaria marcada de
maneira amarga na sua vida para sempre, pois como não completou os 75% da
corrida (o que teria acontecido se a prova tivesse andado mais duas, três
voltas), os pontos foram dados pela metade, ou seja, Prost faturou 4,5 pontos (quatro
pontos e meio), Senna, três, Arnoux dois, Rosberg 1,5 (um e meio), de Angelis um e com meio ponto, Alboreto.
Lauda rodou no Cassino e abandonou.
O campeonato seguiu indo para o Canadá,
circuito Gilles Villeneuve, e outro piloto dava a entender que poderia brigar
pelo campeonato. Nelson Piquet conseguiu fazer a pole position e venceu a
prova, com Lauda chegando pouco mais de dois segundos atrás, Prost em terceiro.
Piquet teve um ano difícil, o carro era muito
bom, digo que em termos de carro em, era tão bom quanto a McLaren, mas o motor
BMW era frágil demais e quebrava uma corrida atrás da outra, o que prejudicou
muito o campeonato do atual bicampeão. O que espantou, em contrapartida, foi o
fato de que, se o carro quebrava muito, em classificação era imbatível, pois o
brasileiro cravou NOVE poles. No caso, nos circuitos de Kyalami, Imola,
Montreal, Detroit, Brands Hatch, Österreichring, Monza, Nurburgring
e no Estoril.
E já digo: Piquet venceu a segunda seguida em
Detroit, dando muita esperança de que realmente o tri viria, mas não passou
disso – depois as quebras voltaram e Piquet não conseguiu mais vencer, mas
ainda conseguiu um segundo na Áustria, um terceiro em Brands Hacth e terminar
em sexto no Estoril, conseguindo assim terminar o campeonato com 29 pontos, na
quinta posição.
Voltando à disputa do título, Prost terminou
em quarto e Lauda abandonou. Isso quer dizer que Prost tinha 34,5 pontos e
Lauda 24. De Angelis era o terceiro com 19 pontos, em um esplêndido campeonato,
terminando as provas sempre nos pontos.
Outra prova que merece destaque no ano de
1984 é a de Dallas. Pela primeira vez a categoria pisava em solo texano, o que
carinhosamente é conhecido como “um outro país dentro dos Estados Unidos”. A
prova era aguardada, pois se sabia-se que seria uma maratona de muitíssimo
calor, e assim foi durante todo o fim de semana, mas o grande detalhe foi o que
aconteceu domingo de manhã.
Os organizadores da corrida tiveram que
correr contra o tempo, pois simplesmente os remendos que já tinham sido
colocados estavam se soltando, tiveram que se apressar, o asfalto começava a se
soltar em determinados pontos do circuito, ajudado pelas provas preliminares.
Após uma verdadeira maratona, com quase duas
horas de corrida disputada sob um calor digno de faraó por a língua pra fora,
Keke Rosberg conseguiu vencer, mais do que isso, conseguiu terminar a corrida.
A corrida em si foi tão absurda que as duas
McLaren abandonaram, o asfalto se soltou na curva mais lenta do circuito, e o
Ghinzani, de Osella, me terminou em quinto lugar. Não preciso nem dizer que o
Tio Bernie nunca mais levou a F1 ao Texas, até Austin, em 2012.
O belíssimo circuito de Brands Hatch sediou a
décima etapa, com vitória de Lauda, Warwick em segundo e Senna em terceiro
lugar. Prost abandonou com problemas de câmbio na volta 37. E pela primeira vez
o campeonato colocou os dois pilotos da McLaren em uma situação de combate de fato
na tabela de classificação.
Prost 34 x Lauda 33,5
![]() |
Dobradinha da McLaren em Hockenheim, com
Prost em primeiro e Lauda em segundo.
|
O grande Prêmio de número 400 da história da
F1 foi no sensacional circuito de Österreichring, onde já foi dito aqui que Nelson Piquet fez a pole, e
na volta 28, vinha sendo perseguido por Prost, que acabou rodando e batendo.
Isso abriu caminho para Lauda conquistar a sua vigésima terceira vitória na
categoria, sendo a primeira na sua casa, o que foi muito especial!
Agora Lauda
marcava 48 pontos, contra 43,5 de Prost, sendo que o campeonato estava na reta
final, já que a prova austríaca foi a décima segunda de dezesseis no
campeonato.
A prova
seguinte foi na Holanda, em Zandvoort, um circuito esquisito, com uma rela longa,
uma primeira curva fechada e um trecho de subidas e descidas. Sem contar que
era tido como o autódromo mais mal cuidado do cenário da categoria, e ainda com
o fato de ser ao lado do mar e com areia que era habitual no asfalto.
Apesar dos
últimos resultados não favoráveis e o fantasma de Vas... vice de novo, Prost
não queria se entregar e venceu na Holanda de maneira autoritária!
A McLaren
venceu o campeonato de construtores, pois além da vitória de Prost, Lauda foi o
segundo colocado, garantido assim, com três provas de antecedência, o caneco de
campeã de equipes.
Sempre
dramático, o mítico circuito de Monza protagonizou uma das corridas mais tensas
do ano. A vitória foi de Lauda, Prost
teve problemas no começo e abandonou, Lauda veio de trás (como sempre) e. perto
do final, assumiu a ponta. Os italianos tiveram esperanças, pois Alboreto
correu bem e Teo Fabi estava possuído, até abandonar a corrida. Alboreto terminou
em segundo e Riccardo Patrese, da Alfa Romeo, terminou em terceiro. (Imaginem o
que teria sido se Lauda tivesse abandonado...)
Lauda chegou
a incríveis 63 pontos, enquanto Prost tinha 52,5. Ou seja, bastava Lauda
“cozinhar o Frango” e estava tudo tranqüilo para o tri!
Durante a
fase final do campeonato, foi perguntado a Prost e a Lauda porque deveriam ser
os campeões.
Prost disse que
já tinha sido vice duas vezes e não queria de jeito nenhum ser vice de novo.
Lauda foi
direto, disse que merecia mais do que qualquer um, por estar desenvolvendo este
carro desde 1982.
A disputa
parecia resolvida, faltavam duas provas, a diferença era de 10,5 pontos e 18
estavam em jogo, mas aí veio um GP da Europa em Nurburgring, que retornava à F1
depois do acidente horroroso do Lauda em 1976.
Pole de
Piquet, com Prost em segundo e Lauda em “DÉ-CI-MO QUIN-TO”. A sensação era de
que o campeonato não tinha acabado, principalmente depois da qualificação.
Prost tinha que lutar pela vitória e apenas pensar na vitória. Lauda tinha que
melhorar, precisava ganhar posições e terminar nos pontos.
Resultado...
Prost venceu e Lauda chegou em quarto.
Inacreditável!
A prova
marcou uma das cenas mais engraçadas e bacanas da história da categoria. Como
era comum antigamente, os carros tinham que vir com cautela durante a corrida, ou
o piloto ficava a pé. Como era um circuito novo na categoria, não se tinha
dados muito precisos, então, alguns carros ficaram sem gasolina no final da
prova, entre eles,Michele Alboreto, que cruzou em segundo e Nelson Piquet, que
foi o terceiro,terminaram a prova juntos, sem combustível, a cena é tão
inusitada que a reação dos dois foi sensacional!
Vídeo aqui!
Com isso, a
configuração do campeonato para a última etapa do ano, no Estoril, trazia Lauda
com 66 pontos e Prost com 62,5, três pontos e meio a diferença, que era de dez
e meio antes da corrida, ou seja, Prost tinha chance de acabar com a sua sina
de Vasc... ops, de Porte... ops, de vice.
O circuito
do Estoril estreou na F1 e foi muito elogiado por todos, com um belo traçado
com curvas de média e baixa velocidade, era ideal para travar bons duelos, e
foi o que se viu no Estoril, uma corrida boa, com bons pegas!
Para o
campeonato, restava a Prost vencer a corrida e Lauda ter algum problema, pois
se sabia, que mesmo largando em décimo primeiro, Lauda viria como sempre veio o
ano inteiro, uma prova calma, vindo de trás, se aproveitando dos problemas e
ultrapassando na hora certa.
Prost saiu
em segundo e venceu a prova, Lauda saiu em décimo primeiro e terminou em
segundo, logo, se tornou campeão por 0,5 (meio ponto). Nitidamente, quando
assumiu o segundo lugar, o austríaco segurou a onda, passando a virar o suficiente
para garantir o título.
A
superioridade da McLaren foi tão grande em 1984, que o Elio de Angelis,
terceiro colocado no campeonato, fez 34 pontos. A situação fica ainda mais
assustadora na tabela de construtores.
McLaren –
143,5 pontos
Ferrari –
57,5 pontos
Minha
opinião.
Lauda fez um
campeonato perfeito, mesmo não começando bem, apesar da vitória em Kyalami,
teve problemas, mas quando engrenou, mostrou toda a sua sabedoria, frieza e
destreza para fazer pontos importantíssimos e assumir a ponta no campeonato
para não perder mais, na Austria.
Para Prost
deve ter sido especial ter tido Lauda como companheiro, pois deve ter aprendido
demais. Basta ver como foi o campeonato de 1986, onde visivelmente era um Prost
diferente do de 1983, que era muito veloz, mas que não pensava muito em
terminar nos pontos, o oposto do que se viu em 86.
Para a McLaren,
foi um ano dos sonhos, pois das dezesseis provas do campeonato, levou doze,
Prost com sete e Lauda com cinco triunfos, tendo feito também fez três poles,
todas com Prost, durante o ano.
Em voltas
mais rápidas, foram seis, divididas igualmente entre os dois, ou seja, três para
cada.
Foi um
belíssimo campeonato. Apesar do domínio da McLaren, foi um campeonato muito
bacana, com variações, muitas quebras, muitas disputas e pilotos tendo
destaques durante o ano, como Senna, Belloff, Stefan Johansson, Surer, Boutsen, entre outros, mas optei por
citar pilotos novos ou relativamente novos que pilotaram em equipes menores.
Sem esquecer a vitória de Rosberg em Dallas, as poles de Piquet, suas duas
vitórias e seus bons desempenhos (quando seu carro permitiu). Alboreto, que
conseguiu andar à frente de Arnoux e conseguiu bons resultados com um carro que
não era uma maravilha. Em declínio, a Renault não deu um carro à altura do ano
anterior e não permitiu que Derek Warwick fizesse muito mais do que conseguiu,
mas ainda assim conseguiu bons resultados. O mesmo vale pra Lotus e De Angelis,
mas com relação a 83, melhorou muito; ainda não foi um carro campeão, mas permitiu
ser o “melhor do resto”.
Se chegou
até aqui, parabéns! Sei que a coluna não é de um jornalista profissional, mas
sim de um amante da velocidade.
Agora o
“título” da coluna. Decidi por o nome de Lauda, pois, para mim, pude finalmente
compreender a razão de Lauda ser tão idolatrado, a ponto do Galvão Bueno dizer
“caminha para ser o MAIOR DE TODOS OS
TEMPOS”, fora os elogios rasgados que foram feitos durante a temporada a este
verdadeiro gênio, a este verdadeiro herói da vida. Fora o que ele fez antes e
claro, em 76 que virou o belo “Rush”, que já vi umas cinco vezes, e em TODAS,
me emociono, principalmente com o final, que no cinema, me fez ir ás lágrimas.
É isso,
quero agradecer a todos que puderem ler, dedicar um pouco de seu tempo a esta
humilde coluna, quero agradecer à equipe pelo espaço e, quem sabe, virá mais.
Um abraço,
fiquem com Deus e até mais.
PS: De
bônus, vai aqui uma entrevista da revista Veja a Niki Lauda em 1984.
https://f1gps.wordpress.com/2011/03/07/niki-lauda-1984/
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