A zona metropolitana
de Shanghai, China, é a mais populosa da Terra. Aproximadamente 25 milhões de pessoas
vivem por lá. Cinco milhões delas vivem no distrito de Pudong, primeira região
da China a se abrir para o mundo exterior depois da morte do líder comunista
Mao Tse-Tung em 1976. No século XXI, Pudong se transformou num laboratório para
as transformações tecnológicas que marcaram a passagem da China de economia
socialista para a maior economia capitalista do mundo. Dos 5 milhões de
habitantes do “novo distrito” de Pudong,
aproximadamente 10.000 são visitantes. Vieram de toda a China para ser
treinados na Academia Executiva de Liderança Pudong (CELAP – http://en.celap.cn/) – onde se tornarão futuros líderes empresariais,
militares e políticos do país.
Entre esses 10.000
convidados, havia 11 brasileiros: a equipe do BRICS Policy Center (BPC – http://bricspolicycenter.org/homolog), uma parceria do
Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio e da Prefeitura da Cidade do
Rio de Janeiro. O governo da China convidou uma equipe do BPC para conhecer o
país e trocar experiências sobre as relações internacionais dos dois países membros
dos BRICS nos meses de novembro e dezembro de 2011.
Um dos fundadores
do BPC e pesquisador dos países BRICS, fiz parte dessa equipe que conheceu as
cidades de Beijing, Guiyang, Shanghai e o distrito de Pudong, esse último em dezembro
de 2011.
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2011: Equipe do BPC recebida no CELAP, Novo Distrito Pudong, Shanghai,
China
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Alojados no mais
importante hotel do Partido Comunista Chinês em Beijing e depois acompanhados
na viagem, dia e noite, por uma diplomata (que falava português de Macau) e por
um funcionário/espião do partido, nossas comunicações com o Brasil eram uma
aventura à parte.
A única conexão à Internet no luxuosíssimo hotel era uma rede com fio que devia ter pelo menos 20 anos e velocidade dos motores V12 da Ferrari na década de 1950. Acessos a Facebook e Twitter estavam bloqueados. Abrir o Hotmail, Gmail e Yahoo e esperar a conexão funcionar era uma rotina. Buscas no Google? Melhor tentar o Altavista.
A única conexão à Internet no luxuosíssimo hotel era uma rede com fio que devia ter pelo menos 20 anos e velocidade dos motores V12 da Ferrari na década de 1950. Acessos a Facebook e Twitter estavam bloqueados. Abrir o Hotmail, Gmail e Yahoo e esperar a conexão funcionar era uma rotina. Buscas no Google? Melhor tentar o Altavista.
Os dirigentes
chineses, porém, não pensaram numa rede social hoje extinta e, em 2011, quase
lá.
O Orkut!
Através das
páginas criadas pelo programador turco Orkut Büyükkökten, funcionário do
Google, fiquei em sintonia com acontecimentos na Fórmula 1 via postagens na
comunidade F1 - Fórmula 1.
Num ano de tedioso
domínio de um carro invencível criado por Adrian Newey – a Red Bull – um dos
poucos temas quentes era o futuro do sobrinho de Ayrton, Bruno Senna Lalli.
Em sua estréia na
Fórmula 1, no ano anterior, Bruninho
(Bruno + Sobrinho) foi derrotado pelo indiano Karun Chandhok na modesta
Hispania, depois de passar pela humilhação de ser substituído, já dentro do
cockpit para os treinos livres, no circuito que seu tio rebatizou de “Silvastone”. Ao que parece, o dinheiro
dos patrocinadores de Bruno era menor do que os do japonês Sakon Yamamoto.
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Titio não curtiu...
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Defenestrado da
Hispania sem cerimônias depois de um ano largando atrás dos companheiros e
batendo frequentemente, Bruno teria um ano sabático em 2011, não fosse sua
sorte, e o azar alheio.
O grande piloto
polonês Robert Kubica, da Renault rebatizada de Lotus (havia duas Lotus na F1
em 2011), sofreu um grave acidente de rally nas férias e perdeu os movimentos
das mãos.
Vergonhosas
comemorações pachecas do acidente foram vistas em fevereiro. Bruninho era um dos cotados para
substituir Kubica na temporada 2011. O outro candidato era o alemão Nick
Heidfeld. Depois dos treinos livres (nos quais Heidfeld sempre foi mais
rápido), a Lotus-Renault optou pela velocidade. O alemão foi escolhido
substituto e Bruno ficou no banco de reservas.
Mas, mesmo tendo
obtido um pódio, Heidfeld não resistiu à força dos patrocinadores e do marketing.
A Rede Globo lançaria, em agosto, uma inusitada chamada para o GP da Bélgica.
Uma imagem de Bruninho aparecia, junto com uma voz: “Você se lembra deste capacete? E deste carro preto?”
As semelhanças
entre o tio de Bruno, na velha Lotus-Renault John Player Special de Colin
Chapman com o novo Senna na nova Lotus pararam por aí. Bruno
continuou batendo. Na estreia, no espanhol Jaime Alguersuari, o que lhe custou
um drive through. Na última etapa do
Mundial, a famosa batida em Michael Schumacher no GP do Brasil. Ficou longe do
pódio obtido por Heidfeld. Para tristeza do pachequismo, foi superado nos
treinos e tabela do Mundial pelo companheiro russo Vitaly Petrov.
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2011: Revolução russa na Lotus-Renault |
A falta de
resultados – uma constante na carreira do brasileiro, que jamais obteve um
título no automobilismo (tirando disputas de kart na fazenda do tio, retratadas
no jogo Super Monaco GP II de Mega Drive) – deixou seu futuro na Lotus a
perigo.
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1992: Campeão da fazenda do Tio Beco
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Driblada a censura
da Internet via Orkut, eu tinha (além das intensas atividades da viagem,
entremeadas com os muitos banquetes com nossos generosos anfitriões) que me
virar com 12 horas de diferença no fuso horário. Só podia me ater aos #FATOS e
traçar cenários com base neles.
Então, na
madrugada do dia 7 para 8 de dezembro (Brasil) e ao meio-dia do dia 8 de dezembro
(China), afirmei num tópico da comunidade F1 - Fórmula 1:
· Pela falta de resultados (velocidade, pontos, quebras) Bruninho seria substituído na Lotus
· O fornecedor (francês) de motores da equipe colocaria um piloto (francês) em seu lugar
Vez que o chefe da
Lotus também era um francês, Eric Boullier, empresário de um piloto francês,
Romain Grosjean, que já tinha corrido na Renault em 2009 (substituindo Nelsinho
Piquet após o escândalo de Cingapura), cravei, depois de longas caminhadas e
negociações no CELAP:
· Romain Grosjean será piloto da Lotus-Renault em 2012
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#FATOS X #mimimi
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Houve grande
comoção na comunidade nesse dia. A grande torcida de Ayrton Senna continuava de
pé depois de quase 20 anos da sua perda. Os defensores de Bruninho (apelidados brunetes, em contraste com os Ma0,7) protestaram. Dizer que Bruno ia
sair seria – apesar de factível – um
ato antipatriótico motivado pelo ódio inconsciente a Ayrton Senna do
Brasil (?). O #mimimi foi além.
Um integrante da
comunidade à época (famoso pela verborragia e por uma antológica participação –
embora curta – no primeiro Torneio de
Debates) afirmou que trabalhava na Renault e que não havia qualquer
possibilidade de substituição de Bruno.
Muitos argumentos
pró-Bruninho apareceram nesse dia. Algo como:
·
A equipe (Boullier) tinha elogiado as boas vibrações que Bruno trouxe à equipe
·
A associação com o sobrenome Senna teria atraído
patrocínios para a equipe
·
A Renault do Brasil teria feito pressão junto à matriz
francesa
·
Já havia um pré-contrato assinado com o brasileiro
para 2012
·
Na pista, Bruninho não tinha ido mal (mesmo com pódio
de Heidfeld e derrota para Petrov)
Outro integrante
da comunidade à época, também famoso – mas por se recusar a aceitar as
CENTENÁRIAS derrotas de Felipe Massa para Fernando Alonso na Ferrari e por
torcer para um time de vôlei belo-horizontino – respondeu algo como: Bruninho fraco, que nem o marketing da
Renault.
E uma longa
discussão na tradição do MMA orkutiano se seguiu entre pachecos e
anti-Sennistas, adoradores e críticos de Bruno em meio à chegada da noite na
China, na qual fomos conhecer a noite de Shanghai, uma das cidades de vida
noturna mais agitada no planeta Terra. Ouvimos, antes, dos nossos anfitriões em
Pudong, que voltássemos cedo. Queriam que estivéssemos bem-dispostos para o dia
seguinte. Teríamos reunião às 7 da manhã e tínhamos que passar nossos crachás
de entrada (no imenso complexo do CELAP) até a meia-noite.
Meia-noite
estávamos lá.
No dia seguinte,
com o fuso na cabeça e uma dúzia de drinks chineses – e sem Facebook, sem
Twitter, sem Google e Yahoo – , o Globo Esporte anunciava:
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O day after na Lotus-Renô
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Os anfitriões
chineses ficaram surpresos com as gargalhadas, em meio ao sisudo e funcional
ambiente dos complexos da Academia de Lideranças, em plenas 7 horas da manhã.
E, para surpresa
geral, o companheiro de Grosjean seria nada mais, nada menos que o campeão
mundial de 2007, Kimi Raikkonen, retornando à F1 depois de dois anos sabáticos
em rallys e NASCAR.
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Kimi Voittaa Kimi
|
Horas depois, em
meio a caminhadas nos parques (mais de um) e lagos (mais de um, grandinhos)
imaginei a quantas andaria a comunidade F1 - Fórmula 1 nesse dia. Olhando ao
longe as montanhas Wuyi que rodeiam o novo distrito de Pudong, tive, num
instante um insight que se mostrou
revelador.
Onde estariam os defensores de Bruninho?
E a chamada da Globo sobrepondo o verdadeiro Senna
e #LoserSenna (no dizer dos haters)?
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Excursão para as montanhas. Patrocínio: Lotus-Renô. Saída: 9 de dezembro de 2011...
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Enfim...
Entre táxis oficiais e piratas, patos laqueados e sopas de ovas de
polvo, visitas a Mao e à Grande Muralha (0.05% dela), caipirinhas de blueberry,
debates sobre as políticas agrícolas, o bolsa-família chinês e o futuro da
ordem internacional com os BRICS, a certeza: nunca subestime o Orkut.
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2012 |
Um adendo: a decisão da Lotus se mostrou não apenas condizente com os
#FATOS. Foi uma ótima decisão. Grosjean fez uma penca de pódios na equipe. KIMI
venceu até corridas por lá.
Já Bruninho...Enfim...Vamos
aos #FATOS.
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